O deputado estadual Amaro Neto (SD), que teve uma votação extraordinária na disputa à Prefeitura de Vitória, não está sabendo aplicar seu capital eleitoral na atual conjuntura política capixaba. O ambiente político, aliás, já está em plena atividade com vistas às eleições de 2018, e Amaro ainda não conseguiu encontrar seu espaço. Ele está feito aquele sortudo que ganhou uma fortuna na Mega-Sena mas ainda não sabe o que vai fazer com tanto dinheiro.
Se ele está à deriva, o governador Paulo Hartung (PMDB) não. Para o jogo político 2018, Amaro Neto é meramente um fornecedor de votos para sustentar as pretensões do governador, que trabalha para chegar ao Senado.
Condições é que não faltam nessa direção. Caso Amaro saia candidato a deputado federal deve fazer, brincando, de 300 a 350 mil votos. Facilita essa doação por ele já se encontrar na base do governo na Assembleia Legislativa. Aliás, é bom que se registre, onde o seu desempenho parlamentar ainda não passou de sofrível, muito embora não tenha sido prejudicial na sua disputa à Prefeitura de Vitória.
Mas puxar votos para os interesses eleitorais de PH, esbarra nas condições favoráveis do próprio Amaro em disputar também o Senado com amplas possibilidades. O mesmo Senado que PH quer contar com os votos dele. Mesmo estando também nessa disputa os atuais senadores Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB). Magno é sempre um adversário perigoso, porque está o tempo todo em busca de um mote popular para se eleger. Diferentemente de Ricardo Ferraço, que faz um mandato de altíssima qualidade que, inclusive, o elevou ao primeiro time do Senado.
Visto assim, o quadro para o Senado (muito embora o senador Ricardo também figure na lista para o governo) segue indefinido. Mas não se pode desprezar o elemento surpresa com uma eventual candidatura de Amaro. Na verdade, a incerteza sobre a corrida ao Senado ronda as cabeças de todos os postulantes à Casa.
Amaro já assombra os virtuais concorrentes ao Senado mesmo restrito a um pequeno grupo político coordenado pelo seu fiel escudeiro, o jornalista Jeferson Ferreira, o Jefinho.
Não há como negar essa possibilidade senatoria de Amaro. Sobretudo pela uniformidade do seu eleitorado, praticamente todo ele da periferia – fato que ficou muito claro na disputa à Prefeitura de Vitória, inclusive, vestindo-lhes o manto do líder popular que estava faltando na vida política do Estado, desde que encerrou-se o ciclo de Solon Borges (anos 1950-60).
Daí se pode apreender por que muita gente estará no seu encalço para destruí-lo. Com menção especial às elites capixabas, que sustentam o sistema político e são intolerantes com o surgimento de protótipos com perfil populismo. E aí que reside realmente a ameaça à sobrevivência de Amaro. Nesse ninho de águias sustentado pelas elites, PH é o seu grande regente, incumbido , já a essa altura (como já fez em outros momentos eleitorais), em tirá-lo do jogo eleitoral. Não é sem outro propósito que imprensa corporativa entra para colar em Amaro o rótulo de subproduto político.
Justo admitir-se, portanto, que essa chegada de Amaro próximo ao cume da política capixaba não estava nas previsões do próprio PH. Ainda mais quando o governador se encontrava em plena execução do roteiro das eleições de 2018, que seria o de abater o ex-governador Renato Casagrande (PSB). Justo também indagar-se, a essa altura, se Casagrande teria condições de se aproximar de Amaro. Acho quase impossível. Pois, como PH, ele também faz parte do projeto de poder das elites capixabas.
O desencadeamento dos fatos, com contornos mais bem definidos na disputa eleitoral deste ano, permite prever que Amaro é candidato a ser o próximo proscrito da política capixaba. Ou alguém duvida que os leões não pensarão duas vezes para jantá-lo?