Esta terça-feira (20) era mais um dia especial para Ricardo Ferraço. Há uma semana, depois de ver seu relatório da reforma trabalhista ser aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o tucano contava como certa uma nova vitória na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) da Casa. A expectativa do presidente Temer era passar o relatório por 11 X 8. Tomou um retumbante 10 X 9, que repercutiu lá na Rússia, onde Temer se encontra em viagem oficial.
Para Ricardo, que acabou segurando o ônus do revés na CAS, a derrota teve requintes de crueldade. Desde que aceitou ser “promotor” da reforma trabalhista, o tucano vem se empenhando para desvincular o pacote de mudanças do governo Temer. Ele vem repetindo, à exaustão, que a reforma pertence ao Brasil e não a Temer. A derrota de hoje, porém, mesmo com Temer do outro lado do mundo, mostrou que a reforma não pode ser dissociada do mandatário do País.
Desde que aceitou a missão do presidente nacional (interino) do PSDB, Tasso Jereissati, de assumir a relatoria da reforma, Ricardo, como num jogo de azar, decidiu arriscar a sorte nos dados. Na primeira rolagem (na votação na CAE), os dados pararam a favor do senador. Hoje a “sorte” virou as costas para o tucano.
Mesmo com a derrota de Temer/Ricardo, a reforma segue tramitando no Senado. Será apreciada nesta quarta-feira (21) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para, em seguida, ser submetida ao plenário.
A cada nova denúncia envolvendo o presidente – no fim de semana foi a entrevista bombástica de Joesley Batista à Época; hoje foi a vez do relatório da PF apontar que “há evidências com vigor de corrupção praticada por Temer” — Ricardo Ferraço tem calafrios. Talvez ele já tenha se arrependido do risco que aceitou correr. Se tivesse ouvido o tucano Fernando Henrique teria percebido que Temer é uma vulnerável “pinguela” prestes a ruir a qualquer momento. E o que é mais dramático. Com Ricardo tentando se equilibrar em cima dela. Não sabe se corre para tentar atravessá-la o mais rápido possível, não sabe se fica imóvel pagando para ver o que vai acontecer ou se simplesmente pula para se safar do pior. Quem gostaria de estar na pele do tucano?