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Nada vezes nada

Nem precisa esperar o final da série de audiências públicas convocadas pelo deputado estadual Claudio Vereza (PT) sobre a poluição do ar na Grande Vitória, para saber que permanecerá tudo como está. Ou seja, as poluidoras ditam as regras, o poder público fecha os olhos, e resta às entidades ambientalistas o árduo papel de cobrar, cobrar e cobrar. Ao invés de um passo adiante, o tal “debate” defendido por Vereza vai ser usado contra nós. Pode escrever. 
 
O petista abriu as portas da Assembleia Legislativa com tapete vermelho para as poluidoras, principalmente a Vale e a ArcelorMittal. Como sempre, muito à vontade, elas deram aquele show à parte já conhecido da sociedade civil organizada. Escorregaram dos questionamentos contundentes dos movimentos sociais, falaram maravilhas de suas ações e projetos, e fizeram promessas – assim como a classe política e o poder público, elas são boas de promessas. 
 
Esse cenário foi proporcionado pela própria dinâmica criada pela Frente Ambientalista, que vendeu a ideia como a “oitava maravilha do mundo”, mas, na verdade, abriu muito espaço para blá,blá e blá, sem apontar culpados – sim, eles existem! – e estabelecer medidas concretas para minimizar os impactos ao meio ambiente e à saúde da população da Grande Vitória.
 
A essa altura do campeonato, depois de décadas de poluição desenfreada, convenhamos, quem aguenta ouvir tanta mentira e ladainha? A pose das empresas de social e ambientalmente responsável, então, é de matar. Haja estômago. 
 
A única coisa que salva, sem sombra de dúvidas, é o enfrentamento das entidades ambientais para “estragar” a festa. O que seria de nós sem elas? Por incrível que pareça, poderia ser pior. 
 
E são essas mesmas entidades que fizeram, até agora, o papel que deveria ser do poder público e das próprias poluidoras, propondo ações concretas para minimizar as emissões de poluentes. Apontaram projetos e alternativas, com datas e exemplos. Como as poluidoras reagiram? “Precisamos de tempo para analisar”. Sabe o que isso significa? Senta e espera. 
 
E o Vereza nessa história? O deputado acha que está tudo ótimo, que “tivemos grandes avanços”. Dessa figuração toda, sairá um relatório, que vai cair provavelmente nas mãos dos órgãos (ir)responsáveis. E depois senta e espera de novo. 
 
No final das contas, as poluidoras ainda se aproveitarão desse “momento democrático” para explorar em suas campanhas publicitárias o quanto estão preocupadas com a qualidade de vida dos capixabas e em aperfeiçoar seu sistema de produção. A lavagem ou maquiagem verde está mais viva do que nunca. Não se engane.
 
Tantas gentilezas que não caberiam numa CPI, cuja criação afundou na Assembleia Legislativa por conta de lobby das empresas e atitudes como a do próprio Vereza, que deu direção ao voto da bancada do PT contrário à investigação.
 
Se o deputado estivesse interessado em fechar o cerco às poluidoras, teria assinado a CPI. Simples assim. O resto é embromation.  Me engana…que eu não gosto.


Manaira Medeiros é mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local e especialista em Gestão e Educação Ambiental

Fale com a autora: [email protected]

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