O volume de recursos empregados pelas empresas financiadoras de campanha na disputa eleitoral deste ano no Espírito Santo expôs uma realidade muito perversa. Mostrou que o setor econômico continua dominando a classe política e se dá ao luxo de não correr riscos, apostando em dois jogadores de uma só vez, assim, quem quer que seja o vencedor estará sob a bota de seus financiadores.
Na disputa ao governo do Estado, as empreiteiras, de olho nas licitações de obras públicas, fizeram a festa, além dos grandes empreendimentos em busca das benesses do Espírito Santo, que não se importa em aceitar empresas que várias partes do mundo rejeitaram.
Na disputa ao Senado, a doação de suplente para a campanha de candidato à vaga alimenta a possibilidade de que o eleito não cumpra seu mandato e dê a vaga a alguém que não recebeu votos. A Transparência Brasil mostra que muita gente chegou à Casa dessa forma. O Espírito Santo, que tanto reclama de sua representatividade, tem de ver isso aí.
Na proporcional, o Estado entrou no mapa das empresas interessadas no lobby da bancada da indústria com financiamentos de empresas que não têm interesse direto no Espírito Santo, mas na defesa de seus investimentos por meio da Câmara dos Deputados.
Todas essas questões chamam a atenção para a necessidade urgente da Reforma Política, com uma luz bem forte sobre o financiamento de campanha. Além de desequilibrar o pleito, essa prática coloca no poder, indiretamente, o setor econômico. E seus interesses muitos dificilmente vão ao encontro dos interesses da população.
Também não dá mais para viver de remendos. A legislação eleitoral vive sendo mudada para tentar dar mais transparência e seriedade ao pleito, mas isso não tem sido suficiente. Criaram-se as prévias das prestações de contas, o fim da doação oculta, mas nada disso adiantou. As empresas só seguraram a mão um pouco mais e desaguaram os recursos na reta final.
Enquanto isso, o empresariado continua mexendo seus pauzinhos para garantir a manutenção de seu poder político.
Fragmentos:
1 – O governador eleito Paulo Hartung não compareceu ao jantar oferecido pelo vice-presidente Michel Temer. Parece estar querendo mostrar de que lado está na briga do PMDB nacional.
2 – Aliás, se tem uma coisa que vem surpreendendo são esses posicionamentos políticos que Paulo Hartung vem tomando no cenário capixaba. Nunca foi disso.
3 – Até o dia 18 de dezembro, quando acontece a diplomação dos candidatos no Estado, muita coisa pode acontecer no campo eleitoral do Espírito Santo.