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No fio do bigode

O presidente regional do PPS e prefeito de Vitória, Luciano Rezende, ratificou o apoio incondicional à reeleição de Renato Casagrande (PSB) na noite dessa segunda-feira (16), na convenção estadual do partido. Ratificou porque, desde abril do ano passado, já havia manifestado publicamente seu apoio à candidatura do socialista. A propósito, foi a primeira liderança política de relevo no Estado a assumir que estava com Casagrande.
 
Luciano deixou claro para seus pares de legenda que não vai “leiloar” o apoio a Casagrande. O recado serviu especialmente para o prefeito de Cariacica, Juninho, e para o vereador e presidente da Câmara de Vitória, Fabrício Gandini, que reivindicam para o PPS a vice no palanque de Casagrande, custe o que custar.
 
Apesar do apetite ávido de Juninho e Gandini, o presidente do PPS fez questão de mostrar que o seu jeito de fazer política não inclui a canibalização dos aliados e que os acordos fiados no fio do bigode não devem ser quebrados, haja o que houver. No muito pediu, humildemente, o apoio do governador para ajudar o vereador Gandini a conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados. 
 
Luciano estava mais preocupado em mostrar que fará o que for necessário para manter a lealdade. Entre os sacrifícios estaria a missão infortuna de dividir palanque com o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, que trabalha para compor chapa com PSB de Casagrande. 
 
Essa preocupação em resguardar a palavra empenhada, se pautar pelos princípios da ética e ser fiel às alianças passou a ser quase uma obsessão para Luciano, sobretudo após a disputa de 2012. Aliás, ele fez questão de registrar publicamente que a última eleição para prefeito de Vitória “foi a mais suja da história”. 
 
Luciano não quis dar nome aos bois, mas se referia à traição do ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que decidiu trocá-lo pelo candidato do PSDB, Luiz Paulo. A partir do momento em que bateu o pé e manteve sua candidatura, contrariando o arranjo de Hartung, Luciano entrou para a lista negra do ex-governador. O então candidato do PPS deixava a calmaria para navegar sob tormentas.
 
Foram várias as armadilhas para minar sua campanha, que partiam de Hartung e do candidato do tucano. A cada novo ataque a sobrevivência parecia menos provável. Manter-se em pé sobre o convés se tornou um desafio sem fim. Quando menos esperava, Luciano era arrebatado por uma traiçoeira onda, cada vez mais caudalosa e furiosa. 
 
A odisseia se arrastou até a véspera da eleição. Antes de ser consagrado pelas urnas, Luciano foi obrigado a enfrentar um último dragão de duas cabeças: uma representada pelo Futura e a outra pelo jornal A Gazeta. O instituto se encarregou de “fabricar” a última pesquisa eleitoral e o jornal de estampá-la com notoriedade na edição dominical que circulou no dia da votação (e também na véspera), no segundo turno da eleição. A polêmica pesquisa “elegia” o candidato tucano, induzindo o eleitor a votar no “iminente vencedor”. Horas depois, as urnas mostrariam que as projeções estavam “equivocadas”. 
 
Ao recordar o episódio na convenção estadual do partido, Luciano exorcizou os demônios que estavam atravessados na sua garganta desde 2012. O desabafo foi tanto para dentro quanto para fora do PPS. Serviu para dar carga de realidade a um episódio que passou despercebido para muita gente que classificava o caso como uma obra de ficção alimentada pela mente persecutória de Luciano. Mas os fatos mostraram que não havia nada de ficcional no episódio.
 
O registro da “eleição mais suja da história” pode ter servido também para conscientizar parte de sua atual equipe de governo. Muitos embarcaram na nau pós-eleições e só navegaram em Mar de Almirante. Desconhecem a fúria da tormenta e não identificam (ou fingem não identificar) os autores da trama como algozes em potencial que poderiam ter naufragado a nau antes mesmo de ela aportar na Prefeitura de Vitória.
 
Em tempo: Luiz Paulo repercutiu no jornal A Gazeta (18/06/2014) as declarações de Luciano Rezende na convenção do PPS. Fez questão de esclarecer que foi ele a vítima da história. Desse jeito será difícil manter a harmonia no palanque de Casagrande.

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