Atribui-se à Operação Lava Jato um peso considerável no revés da economia em 2015. Teria pesado 1% a menos no PIB ao obrigar a Petrobras a recuar os halfs e mais 1% ao forçar as empreiteiras a tirar o pé do acelerador.
Taí uma conta feita “por cima” por quem está idem. É uma “contabilização criativa” dos prejuízos sofridos pelos detentores de capitais, que têm instrumentos de defesa de seu patrimônio.
A verdadeira conta do mau 2015 que tivemos precisa ser feita por quem está embaixo, situação em que a queda foi de 2% para mais. Tome-se o índice de desemprego, que subiu de cerca de 6% para 10%, em números redondos. Quem está por baixo, na condição de empregado ou trabalhador autônomo, é muito mais vulnerável a uma situação econômica desfavorável do que aqueles que pairam acima da carne seca.
Em outras palavras, quem anda a pé não pode praticar pedalagem.
Tome-se, por exemplo, o índice da inflação, que subiu de 6% a 10% por ano, de dezembro a dezembro. A maioria dos preços e serviços sofreu aumentos constantes nos últimos meses.
Lamentavelmente, os campeões da carestia são serviços públicos como eletricidade e combustíveis. Com isso, alastra-se a majoração para todas as cadeias produtivas, do agronegócio ao turismo.
Quando o preço da carne bovina alcança valores inéditos nos balcões frigoríficos dos supermercados, já sabemos que isso é o reflexo do êxito dos exportadores em mercados internacionais. Bom, né?
Fazendeiros, frigoríficos, supermercados: ganham todos com a alta do boi, menos os consumidores brasileiros. É a tradição brasileira: exporta-se o melhor e impinge-se ao consumidor o rebotalho a preço internacional. Resta o consolo de que as carnes de frango e suínos estão por baixo.
Não é mera coincidência que até empresários da pecuária estejam sendo convocados para depor aos procuradores e agentes da Lava Jato. Um deles chamado Bumlai já admitiu ter dado um dinheirão ao caixa dois do PT. Só ao PT? Histórias para boi dormir.
Atribui-se um certo direcionamento às investigações contra o partido de Lula, como se o petismo abrigasse a maioria dos corruptos do país, quando todo mundo neste país está cansado de saber que a mamata é antiga, generalizada e 99% impune.
É verdade que não faz muito a Justiça alcançou vários políticos, entre eles o peixe grande petista Zé Dirceu (10 anos), mas a recente condenação do tucano mineiro Eduardo Azeredo (20 anos), “pioneiro” no desfrute do mensalão, pode representar o início de uma certa equalização na aplicação da Justiça.
Senhoras e senhores, façam suas apostas: quem será o próximo político encarcerado?
Até agora, sobrou apenas para o senador matogrossense Delcidio Amaral, considerado um bagrinho nesse mar coalhado de peixes grandes.
Segundo algumas estatísticas publicadas pela imprensa, há meia centena de tubarões presos, alguns deles (ditos traíras, segundo a ética da jagunçagem brasileira) cumprindo pena em casa, com tornozeleira eletrônica, aparelho que atrapalha certas atividades como desfrutar da piscina, mas nem se compara com as grades das penitenciárias.
O número (50 bacanas) é apresentado como se fosse muita gente. Ora, bolas. Se a Lava Jato abrir o leque para alcançar todos os praticantes de maracutaias no âmbito de obras e serviços públicos, será preciso desde já iniciar um mutirão para construir novas penitenciárias, o que certamente ajudaria a reativar o mercado da construção civil. E os fabricantes de tornozeleiras eletrônicas haverão de ganhar muito dinheiro nessa mais nova fronteira da telemática.
Não se pode livrar a cara dos políticos porque foram eleitos pelo povo, nem dos empresários porque tocam pra frente a locomotiva da economia.
Mas a aplicação da Justiça no âmbito econômico precisa avançar muito, muito mais, já que o país clama por uma isonomização da renda e da riqueza.
Bem fariam os juízes e agentes afins se aproveitassem o momento para não apenas evitar, mas impedir que os pobres paguem a conta da corrupção, como já estão pagando pela estagnação da economia.
Se o jato da justiça alcançar Lula, como vaticinam alguns arautos do justicialismo financeiro, nunca se deve esquecer que foi o sapo petista quem teve a coragem presidencial de promover a ascensão do pobrerio ao primeiro extrato da classe média.
Em nome da justiça social, não se pode admitir que os “privilégios” outorgados aos pobres e miseráveis no século XXI sejam atenuados, reduzidos ou cancelados.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“No deserto a melhor camuflagem é a verdade, porque ninguém acredita nela”. Provérbio beduíno