O buraco negro das doações
Como já era previsto, a prestação de contas final dos candidatos que disputaram o segundo turno das eleições deste ano nada esclareceu sobre os gastos de campanha.
Partidos e candidatos recorreram a uma manobra legal, mas nada ética, para ocultar a origem do dinheiro que financiou as campanhas de diversos candidatos País afora.
A estratégia é bem simples. Para não deixar rastros da identidade do doador na prestação de contas do candidato, as empresas destinavam o dinheiro diretamente para as direções nacionais e estaduais dos partidos que, em seguida, repassavam os recursos para os candidatos.
Quem acessou o sítio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para “bisbilhotar” os gastos de campanhas dos candidatos e conhecer quem eram os grandes doadores deu com a cara na porta. A manobra assegurou o total sigilo dos doadores, exigência dos empresários. Resultado: a sociedade não terá a menor ideia dos interesses que estarão por trás dos futuros prefeitos.
No Espírito Santo, os seis candidatos que disputaram o segundo turno das eleições em Vitória, Vila Velha e Cariacica, em maior ou menor intensidade, se valeram da mesma manobra. No primeiro turno não foi diferente. Afinal, essa era uma orientação dos partidos. O candidato que não topasse guardar o nome do seu doador a sete chaves ficaria de mãos abandonando. E, em época de campanha, ficar com os bolsos vazios ninguém quer.
As campanhas dos candidatos que passaram para segundo turno – em idades com mais de 200 mil eleitores – deixaram a manobra mais evidente.
No Estado, o candidato derrotado a prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), e o prefeito eleito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM), foram os que mais arrecadaram dinheiro para as campanhas: R$ 5,3 milhões e R$ 2,9 milhões, respectivamente. Boa parte deste dinheiro veio da direção nacional dos partidos, em outras palavras, doações ocultas.
Observe o exemplo da prestação de contas de Rodney, que é muita semelhante à de Luiz Paulo. Dos R$ 2,9 milhões arrecadados por Rodney, 74% (R$ 2,145 milhões) ficaram ocultos.
O percentual de “ocultação” de Rodney está dentro da média nacional dos candidatos e partidos que se valeram do expediente para preservar a identidade dos financiadores e deixar o eleitor às escuras.
É interessante que esses mesmos políticos, quando lhes convêm, pegam carona no discurso da sociedade para pedir mais transparências às instituições públicas. Cansaram de repetir isso durante as campanhas, embora a Lei de Acesso à Informação ainda passe longe de suas agremiações partidárias, que permanecem operando nas trevas.
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