Já não era novidade para ninguém que o Espírito Santo abrigou uma das principais “lavanderias” do esquema de corrupção montado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira no País. As informações que vieram à tona no documento apresentado nessa quarta-feira (21) pelo relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), confirmam que a Delta Construtora mantinha ramificações importantes no Estado.
Pelo menos duas empresas capixabas lavavam o dinheiro do esquema. Em dois anos, essas duas empresas podem ter desviado mais de R$ 23 milhões. A soma é significativa. No ranking da corrupção montado pelo bicheiro, os valores movimentados no Estado só são inferiores às cifras movimentadas pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Outra informação que não é nova, é o envolvimentos de políticos no esquema do Cachoeira. Essa é a parte mais delicada da CPI, justamente pela importância dos investigados. O relatório de Cunha aponta que o dinheiro lavado pela Delta financiou muitas campanhas e pagou propina para muitos políticos País afora.
As novidades sobre o esquema não estão necessariamente nas informações reveladas no relatório do deputado de Minas Gerais, mas no desdobramento da CPI, que poderá chegar a uma lista extensa de suspeitos.
No Estado, é justamente esse desdobramento que poderá complicar o ex-governador Paulo Hartung. Afinal, a Delta, nos últimos dez anos, recebeu cerca de R$ 150 milhões em contratos do governo capixaba. Pela ordem de valor, os contratos mais generosos foram firmados com a Cesan (R$ 51 milhões); Secretaria Estadual da Fazenda (R$ 278 mil); Departamento de Estradas e Rodagens do Estado (R$ 44 milhões) e Poder Judiciário (R$ 26 milhões).
Pesa contra Hartung ainda o fato de a empresa ter entrado no Espírito Santo pela porta da frente justamente no período em que ele chefiava o Executivo estadual. A própria CPI, lá no começo, em abril deste ano, já apontava indícios de ligação entre a Delta e o ex-governador.
Quando essa informação foi levantada pela CPI, a revista IstoÉ chegou a fazer uma grande reportagem que mapeava os envolvidos no esquema. Ao mexer no vespeiro dos governadores, a revista semanal alertara que a composição da CPI contava com um grupo dedicado a atender aos interesses de aliados envolvidos com a Delta e com Cachoeira.
Trecho da reportagem da IstoÉ, de 27/04/2012, informava: “O senador Ricardo Ferraço (PMDB) é um desses [que estão a serviço de aliados]. Seu padrinho político é o ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que pode virar objeto da CPI porque na sua gestão a Delta conseguiu nada menos do que R$ 200 milhões em obras no Espírito Santo”.
A revista também revelava a ligação entre diretor comercial da Delta no Estado, o então secretário de Fazenda José Teófilo de Oliveira e Hartung. Para quem não se recorda, o deputado federal Paulo Foletto (PSB) – que chegou a fazer parte da comissão até renunciar à vaga – sugeriu, à época, a convocação do engenheiro José Maria Oliveira Filho.
O engenheiro, que exercia a função de diretor comercial da Delta, é irmão do ex-secretário José Teófilo, que é o atual sócio do ex-governador no escritório de negócios Econos.
Como alertou a IstoÉ em abril, evidências não faltam para incriminar muita gente, resta saber se os integrantes da CPI irão levar as investigações até o fim ou vão travá-la no meio do caminho para poupar os aliados de primeira hora.