“Façam suas apostas!”. A frase serviu para o deputado federal Carlos Manato (Solidariedade) abordar os colegas que circulavam pela Câmara nessa quarta-feira (14). Julgando sua ideia “brilhante”, o corregedor da Casa (é bom que se registre) fez as vezes de crupiê para organizar as apostas em torno do placar do impeachment, que deve ser votado pelo plenário da Câmara dos Deputados no próximo domingo (17).
Manato anunciava, com o sorriso largo — como se estivesse organizando o bolão de uma partida de futebol —, que por R$ 100 era possível fazer uma fezinha no resultado do impeachment. Questionado se a atividade paralela não pegava mal pelo fato de a jogatina estar rolando à luz do dia em pleno Parlamento brasileiro e ser ele o corregedor da Casa, Manato deu de ombros. Definiu a iniciativa como uma “brincadeira”.
Brincadeira? O bolão do Solidariedade comandado por Manato é uma caricatura do processo de impeachment que corre na Câmara, que nos últimos dias está muita mais parecida com um circo (de horrores).
Manato não tem sensibilidade para perceber que o impeachment é sempre um processo traumático para qualquer democracia, especialmente uma jovem, que está se firmando, como é o caso da brasileira. Afinal, quase 55 milhões de brasileiros elegeram a presidente Dilma legitimamente, acreditando que ela governaria o País até 2018.
É verdade que muitos desses eleitores podem estar insatisfeitos ou mesmo arrependidos, mas isso também faz parte do processo de amadurecimento da democracia. Numa democracia, a maneira mais eficaz de se “punir” o político que não corresponde às expectativas da população é com o voto.
É notório que a democracia brasileira tem um longo caminho a percorrer antes de atingir a maturidade. Prova disso é a qualidade dos ditos “fiscais da sociedade”, que estão no Congresso “representando” o povo. Um Congresso que abriga figuras patéticas como Manato, que tem a desfaçatez de se gabar de organizar um bolão.
Se a intenção era conquistar seus minutos de fama, conseguiu, mas o tiro saiu pela culatra. Os principais jornais do País registraram a iniciativa patética do parlamentar. Os comentários agregados a essas notícias, quase que à unanimidade, condenaram a atitude do deputado e de seus colegas de partido.
Manato deveria se enrubescer por se prestar a uma fanfarronice dessa monta num momento tão delicado para o País. Será que ele ainda não entendeu que impedir o mandato de um presidente legitimamente eleito é algo negativo para imagem do País? Será que ele já se esqueceu que o primeiro presidente eleito por voto direto após a redemocratização também sofreu impeachment e acabou renunciando?
Vinte quatro anos após a queda de Collor, o País enfrenta um novo processo de impeachment. Isso deveria ser motivo de extrema preocupação de todos os brasileiros. Não há motivo para palhaçada.