Avalio como intransigente a posição da senadora Rose de Freitas (PMDB) de impor sua candidatura ao governo à qualquer custo. Seria mais sensato e estratégico deixar as possibilidades, por ora, em aberto. Na política tem uma regrinha básica, nunca se deixa uma única saída. É prudente ter o plano B e, às vezes, até o C.
O plano B de Rose deveria ser o ex-governador Renato Casagrande (PSB). Ele admite que está conversando com a senadora e que pretende sedimentar essa aliança para 2018. Mas essa aliança com Rose, devido à posição fechada da peemedebista de disputar o governo, empurra obrigatoriamente Casagrande para a corrida ao Senado. Por isso ele tem ficado meio constrangido ao ser pressionado por setores do partido a assumir de vez sua candidatura ao governo.
Tentando empurrar essa questão do cargo que irá disputar para o ano que vem, Casagrande segue se movimentando pelo interior do Estado, defendendo o legado de seu governo e fazendo críticas à gestão de Paulo Hartung (PMDB). Aliás, apesar de Rose também estar andando a todo vapor pelo Estado, o recall da disputa de 2014 ainda está aceso no interior, apontando um cenário ainda com sinais de polarização entre Casagrande e Hartung, que também se movimenta freneticamente pelos municípios.
Essas movimentações, porém, são feitas por lideranças com perfil tradicional, ou seja, não há, por ora, nada de novo campo. Volto, só para não perder o costume, a registrar que a novidade que poderia desequilibrar esse jogo seria o deputado estadual Sergio majeski (PSDB).
A propósito, Luiz Paulo Vellozo Lucas, secretário Nacional de Desenvolvimento Urbano do Ministério das Cidades, entusiasta de Majeski, teria o encorajado a entrar na disputa. O tucano aposta que o correligionário poderia ser candidato do PSDB ao governo.
Mas voltemos ao fator Rose. O projeto eleitoral de Rose coloca Casagrande como candidato ao Senado, hipótese que o próprio não descarta. Não acho que Rose não tem chance de ganhar a disputa. Longe disso. Só não concordo que ela tenha fechado as portas tão cedo para outras possibilidades.
Rose corre o interior com uma estratégia um pouco diferente de outras disputas. A pegada municipalista, desta vez, “contorna” as prefeitos. Quero dizer, ela não amarra as entregas necessariamente aos prefeitos, mas se preocupa em mostrar diretamente à população que a maternidade é dela. Talvez a senadora tenha aprendido com a derrota da Associação dos Municípios do Estado do Espírito Santo (Amunes). Ao disputar o apoio dos prefeitos com PH pelo controle da Amunes, ela percebeu que, no final das contas, mesmo se sentindo entra a cruz e a espada, a tendência dos chefes do executivos municipais era quedar para o lado do Palácio Anchieta.
Acho que Rose não quer fazer a queda de braço com Hartung para ver quem é o campeão de entregas por meio dos prefeitos. Prefere falar diretamente ao eleitor e não ao “cabo eleitoral”. Desta maneira, mantém os prefeitos neutros no jogo. Ela deve ter entendido que se pressioná-los os joga diretamente no colo de Hartung.
Apesar da incontestável força política da senadora, há muita gente dizendo que PH, se puder escolher o adversário, prefere a senadora. PH sabe que Rose é ela e ela. Se lá na frente alguma coisa der errado no projeto dela, como não há plano B, Rose pode acabar saindo e deixando o caminho livre para PH.
O governador também a prefere como adversária porque ambos fariam uma disputa tradicionalíssima. Não haveria o fator novo em campo, o inesperado. Isso costuma incomodar PH, que é cartesiano no planejamento e detesta contar com o imponderável.
Para bater Rose, ele se apega à imagem que vem construindo de gestor-modelo. O governador-economista que aplicou com sucesso um ajuste fiscal que deveria ser seguido pelo resto do País, como tem recomendado por meio da grande mídia nacional os entusiastas do modelo PH.
Mas se para fora o governador volta a restaurar sua imagem, internamente não é bem assim. PH enfrenta tensões sérias com os policiais militares. A PM voltou às ruas depois da greve de 22 dias em fevereiro, mas o clima dentro dos quartéis segue pesado. A corda também continua esticada com o funcionalismo público, que não abre mão das reposições salariais, se colocando ao lado dos críticos da política de ajuste fiscal imposta pelo governo do Estado.
Por mais que venda essa imagem de supergestor, PH tem fragilidades de sobra para serem exploradas pelos adversários. Por essas e outras, Rose não me parece um presa nada fácil. Ao contrário, já mostrou em várias ocasiões sua capacidade de sobreviver à perseguição política de PH. E isso não de hoje. Essa peleja começou lá atrás, em 1986, quando PH foi decisivo na convenção que tirou Rose da disputa à Prefeitura de Vitória, que acabou vencida por Hermes Laranja, que se elegeria prefeito naquela eleição.
Nestas três décadas PH vem tentando aniquilar Rose politicamente, mas ela sempre sobrevive às investidas de seu algoz. Na última disputa, em 2014, Rose parecia praticamente entregue ante a estratégia de isolamento imposta por PH, que minou a candidatura da correligionária em nome do apoio clandestino à candidatura de João Coser. Como o petista não decolou, na última hora Hartung se encostou em Rose e ainda tirou proveito da candidata, até então, preterida.
Caso entre mesmo na disputa, Rose tem alguns trunfos na manga que causam inveja aos adversários. É a única que tem mais quatro anos de mandato garantido; tem um suplente (Luiz Osvaldo Pastore) que é uma espécie de carro forte, ou seja, dinheiro não é problema para uma eventual campanha; e ainda tem a chave do cofre de Temer para seguir fazendo suas entregas no Espírito Santo e impressionando o eleitorado.
Convenhamos, boas armas para entrar na guerra e ser competitiva. Pode perder, porém, como disse no começo do texto, para sua intransigência, que, às vezes, tem pitadas de arrogância.