Sexta, 03 Mai 2024

O grito das ruas

O silêncio das organizações da sociedade civil frente à manobra engendrada pelo procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, para blindar o presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), começava a preocupar os que acompanham mais atentamente os desdobramentos da Operação Derrama. As pessoas se perguntavam: “Será que os movimentos sociais não vão para as ruas em protesto a essa manobra ardilosa?”



A aparente passividade dos movimentos sociais gerou uma dúvida: será que a população está compreendendo o que estava acontecendo? Ou interpretaram que o parecer do procurador-chefe de fato fora “equilibrado”, como disse um jornal. O mesmo que apontou que poderia estar havendo excessos por parte da polícia e do Tribunal de Justiça, que estariam dando conotação política às investigações.



Afinal, a temida Derrama estava promovendo uma “limpeza” inédita no Estado. A segunda fase da operação, a mais aguda, levou mais de 30 pessoas para a cadeia, entre elas, dez ex-prefeitos, tal a capilaridade do esquema que envolve pelo menos oito prefeituras na cobrança irregular de tributos.



Além de encarcerar os ex-prefeitos, as investigações também atingiram Ferraço, que foi indiciado justamente às vésperas de ser reeleito presidente da Assembleia.



O parecer do chefe do MPES, que alegou que não havia elementos nas investigações para oferecer denúncia à Justiça, acabou sendo decisivo às pretensões de Ferraço, que ganhou sobrevida para manter-se no jogo.



O desfecho dessa manobra se consolida simbolicamente nesta sexta-feira (1), quando a Assembleia Legislativa deve confirmar Ferraço na presidência.



Do parecer de Pontes para cá, impera na Assembleia a lei do silêncio. Ferraço está mudo, assim como os 29 parlamentares que devem reconduzi-lo ao comando da Casa. A estratégia foi mergulhar o mais fundo possível, esperar a poeira baixar e, só então, retornar de mansinho à tona.



Mesmo meio em cima da hora, os movimentos sociais anunciaram nesta quinta (31) que vão quebrar esse silêncio com um protesto. Nesta sexta (1) eles vão bater na porta de Pontes para perguntar por que o procurador-chefe se omitiu e deixou de apresentar denúncia contra o deputado.



Em seguida, partem para a Assembleia para lembrar à população que os ditos “representantes do povo” estão prestes a reeleger um presidente que coleciona quase três dezenas de processos na Justiça e um indiciamento em curso num dos maiores escândalos de corrupção que este Estado já assistiu.



Não se sabe quantas pessoas o Fórum Estadual em Defesa do Interesse Público (Fedip), que está puxando o protesto, vai conseguir reunir. Mas isso agora não é o que mais importa.



Importante é saber que os movimentos sociais não estão inertes e já começaram a fazer barulho para quebrar o silêncio que reinava no MPES e na Assembleia. Os gritos das ruas vão incomodar muita gente.

Veja mais notícias sobre Colunas.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 03 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/