O governador Paulo Hartung (PMDB) pôs a máscara de ferro para não ser reconhecido e consolidar a estratégia de que esse é um novo governo.
Mas vamos voltar um pouco na história recente do Espírito Santo para entender melhor essa estratégia. Quando concorreu à prefeitura de Vitória, em 1992, Hartung construiu sua campanha em cima das críticas à gestão do então prefeito Vitor Buaiz (PT), acusando-o de “quebrar a prefeitura”. Ao vencer a eleição e assumir a prefeitura, usou o argumento para justificar as dificuldades que teria pela frente.
Em 2002, quando o disputou o governo do Estado, não foi diferente. PH disparou contra a gestão José Ignácio Ferreira (PSDB), de quem era politicamente muito próximo até então. Mas a ocasião exigia que ele retomasse o discurso do “Estado quebrado”. Não pensou duas vezes.
Em 2014, a vítima foi Renato Casagrande (PSB). Para quebrar o pacto da continuidade costurado com socialista em 2010, Hartung passou a construir a narrativa de que acusava o então governador havia arruinado as finanças do Estado. A mesma narrativa fortaleceria plataforma da campanha vitoriosa e, de quebra, serviria para justificar as dificuldades financeiras do Estado nessa primeira metade do mandato. PH passou a repetir à exaustão que Casagrande “tropeçara nas próprias pernas e quebrara o Estado”.
Mas desta vez, sendo ele candidato à reeleição ou lançando um sucessor, não vai mais poder recorrer ao discurso do “Estado quebrado”. Por isso ele se esconde atrás da máscara para não ser reconhecido.
Nessa estratégia, ele tem jogado a responsabilidade pelas dificuldades da gestão nas costas dos antecessores, mas nunca deu oportunidade para que seus sucessores pagassem na mesma moeda. O caso mais clássico foi com o próprio Casagrande, que aceitou o pacto da continuidade e assimilou o espólio de Hartung de olhos fechados, com todos os ônus embutidos. Foi além, ajudou a “passar o pano” em pendências do antecessor, empregando boa parte dos homens de confiança de PH.
Como a blindagem escondeu tudo, ficou a sensação de que o governo de Hartung foi perfeito. Quando Casagrande acordou e tentou apontar as falhas do antecessor, já no final da disputa eleitoral, ou seja, quase quatro depois de assumir o governo, Inês já era morta e enterrada havia tempo.
Essa máscara de PH só pode cair se ele se deparar com adversários dispostos a confrontá-lo. A senadora Rose de Freitas (PMDB), se tiver legenda para entrar na disputa ao Palácio Anchieta, pode incomodá-lo.
Mas a apreensão maior de Hartung não seria nem com a senadora. Desesperador mesmo seria enfrentar um adversário declaradamente de oposição. É o caso do deputado Sérgio Majeski (PSDB), a única liderança que podemos considerar oposição legítima ao governo do Estado. Se Majeski tiver um palanque sólido para fincar o pé, poderá abrir fogo contra PH, que não conseguirá se esquivar da saraivada de tiros.
Diferentemente das anteriores, esta eleição não será um passeio para Hartung. Ele ainda tem lugar privilegiado na mesa, porém não dá mais as cartas sozinho.
O auge da Era Hartung já passou. Ao longo desses anos, PH foi colecionando adversários. Desafetos que ficaram pelo caminho e acabaram percebendo que havia vida fora da redoma de Hartung. Muitos já perderam aquele medo que tinham de PH.
Esses blocos partidários que vão se organizando com certa independência do Palácio Anchieta também indicam que, mesmo aqueles que ainda se identificam como aliados, passam a se preocupar em criar estratégias próprias, desvinculadas do projeto de PH. Não querem mais ficar reféns do tabuleiro de Hartung.
Mostra disso é esse movimento puxado de dentro da Assembleia pelo deputado Erick Musso (PMDB). É claro que quando notamos o presidente da Casa envolvido nesse bloco de partidos gera desconfiança. Afinal, Erick é declaradamente ligado ao Palácio Anchieta. Mas o que é preciso considerar é que hoje PH precisa mais do bloco do que o inverso.
Há quem diga que PH segue muito forte porque sabe se servir da máquina como ninguém. Isso é fato. Mas é fato também que hoje a senadora Rose de Freitas, que tem na cabeça a combinação do cofre do governo federal, equilibra bem o jogo quando o assunto é transferir recursos aos municípios. PH sai de uma lado com a máquina e Rose do outro com as verbas federais. Um páreo duro.
Todas essas variáveis desfavoráveis a PH se abrem no horizonte eleitoral de 2018 e tornam seus planos mais difíceis.
Por isso. registro aqui minhas dúvidas se PH será mesmo candidato à reeleição, como tem muita gente dizendo por aí. Talvez ele tenha que abrir mão da disputa e recorrer à trinca de ases que guarda na manga: Júlio Pompeu (Direitos Humanos), Octaciano Neto (Agricultura) e Eugênio Ricas (Controle e Transparência).