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O ignorado

Vasculho a Internet em busca de algum filme, livro, conto, revista, novela que tenha esse  insosso  título aí em cima, e nada encontro. Também a versão feminina, a ignorada, me decepciona – nunca, jamais, em tempo algum, tal palavra –  não importa de qual classe gramatical, foi explorada pela literatura. Mesmo o dicionário virtual é vago ou omisso – Ignorado: “O que não se conhece”.
 
O termo ignorante passa perto, sendo farinha do mesmo saco: “Que ignora; que não tem instrução ou conhecimento”. Como disse Sócrates, o sábio: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”. Não foi o caso de Pedro Passos, que  viu o aviso de não fumar estampado em todas as bombas do posto de gasolina e mesmo assim acendeu o cigarro.  Buuum!
 
A proibição não era ignorada por Pedro, mas ignorando-a, ele quase provocou um acidente de catastróficas proporções.  Foi multado, saiu na sessão policial do seculodiario, e ainda levou bronca da irada esposa Neusa, que entre outros epítetos, o xingou de ignorante.  Mesmo cheia de razão, ignorante no caso foi ela, pois o marido, conhecendo o aviso, foi imprudente mas não ignorante.
 
No mesmo dia seu vizinho Oscínio Pratos  recebe de volta uma carta enviada a Beto Gonde com o indesejado carimbo: Destinatário ignorado. Pela definição do dicionário,  Beto seria alguém que Oscínio não conhece ou ignora. Mas a carta, de assunto urgente, trata da cobrança de avultada quantia que Oscínio, ignorando o mau caráter do destinatário, em má hora lhe emprestou. Portanto, mesmo não ignorando o trambiqueiro, Oscínio foi ignorante.
 
Embora ignorado pelo agente dos correios, vulgarmente chamado carteiro ou carteira,  Beto é também ignorante, pois ignora assunto de grave relevância para seus próprios interesses.  Ignorante por ignorar, procura desesperadamente um certo Pedro, vizinho de Oscínio, para assuntos de vingança passional ou cornuda. Em tempos idos, Pedro lhe roubou a ex-amada Neusa, ofensa jamais ignorada por Beto.
 
Ignorando por ignorante, Beto preferiria mil vezes – o valor da dívida – ser encontrado pelo irado credor, assim tendo a chance de descobrir o ignorado paradeiro da infiel amada.  Ignorante das coisas do coração, Beto ignora que amor perdido é como dinheiro emprestado – não se acha mais. Ignorante também  da cultura popular básica, se lesse os jornais Beto teria visto o rival no incidente do posto de gasolina.
 
Outro ignorante é Pedro, que ignora estar sendo procurado. Quanto a Oscínio, recebendo ou não o dinheiro de que tanto necessita,  deve ter cuidado, pois como disse La Fontaine, “Nada há de mais perigoso que um amigo ignorante”.  E ignorantes somos todos, pois nas questões de amor ou de dinheiro, alguém sai sempre perdendo.

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