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O livro da vida

Depois do DNA, chegou a vez do genoma – tão grande que contém todo nosso mapa genético, tão pequeno que cabe no núcleo de uma célula menor que a cabeça de um alfinete.  Os especialistas o comparam a um livro com 23 capítulos chamados cromossomos; cada capítulo contém  de 48 a 250 milhões de letras ACGT. Ou seja, são cerca de seis bilhões de A’s, C’s, G’s e T’s resguardando tudo que somos e seremos – as guardiãs de nossa história.
 
Pelo menos uma cópia desse livro genético, com todos os 23 capítulos, fica armazenada no núcleo de cada célula do organismo, o tal pequenininho, pequenininho.  Sendo que o corpo produz bilhões de novas células diariamente, cada vez que uma célula se divide, ela precisa copiar primeiro a informação guardada em seu núcleo, o que leva de 6 a 8 horas.  Se pudéssemos fazer essa cópia, levaríamos 95 anos!  
 
Decodificando os segredos do genoma, que contém todo o passado, presente e futuro,  pense nas possibilidades. Sobre o passado, saber o que nos fez ser o que somos e como somos; no presente, mudar o que deu errado para melhorar o futuro. Há muito que aprender ainda, mas talvez num futuro não muito distante seja possível evitar a maioria dos ‘defeitos’ físicos e psicológicos que nossa herança genética nos passou, como ter diabetes ou crises de mal-humor.
 
Ou ter câncer no seio. Aí entra o que chamam agora de Efeito Angelina: se você sabe que vai ter câncer em algum órgão do corpo, retire-o antes. Mas nada é tão simples, embora complicado. Se ainda no útero os pais da Angelina soubessem que ela poderia (ou não) vir a ter câncer aos 50 anos, seria motivo para um aborto?  Ou se o filho um dia vai entrar numa escola atirando em todo mundo?
 
Testes para mapear o genoma estão na moda. Quando começou, em 2003, custava a bagatela de 2.7 bilhões de dólares.  Aí descobriram que não se precisa conhecer todo o conteúdo do núcleo, basta 1%, e como acontece com toda novidade que criam ou descobrem, o preço foi caindo. Hoje qualquer um pode conhecer seu mapa genético por apenas 99,00. Nenhum preço de nenhum outro procedimento ou produto caiu tanto.
 
Os cientistas garantem que, em 2025, todos terão seu mapa genético, provavelmente de graça. Com certeza estão falando do primeiro mundo, não de países que nem resolveram ainda o problema de leitos nos hospitais. E se seu teste indicar uma doença incurável no seu futuro?  Os testes para saber se você vai ter Alzheimer estão em uso, simples e baratos,  mas se a doença não tem cura ou prevenção, por que saber agora o que você vai esquecer depois?
 
Outras questões mais altas se alevantam:  o genoma sabe, realmente, tudo sobre nós? Estudos com gêmeos idênticos, tanto os que cresceram juntos como os separados ao nascer, revelam surpresas desconcertantes.  A herança genética sofre alterações no percurso pela vida, provocadas pela educação, o lugar onde vivemos com cultura e hábitos específicos,  as pessoas com quem lidamos, os eventos e acidentes que enfrentamos.
 
Como dizia Shakespeare, há mais mistérios entre um genoma e um Prozac do que imagina nossa vã filosofia. Por exemplo, tem muitas coisas que nossos ancestrais faziam e não fazemos hoje, por imposições morais e culturais, ou porque saíram de moda usar chapéu coco, duelar, comer gafanhoto. Houve um tempo que derrubar uma jovem com um tacape era considerado casamento.  A sociedade, a lei, a moral e os bons costumes se intrometem na sequência da natureza, mudando muita coisa. 
 
Por causa dessas influências externas, esse multigigabite arquivo com seus seis bilhões de A’s, C’s, G’s e T’s em cada uma das células do corpo leva a poucos resultados, pelo menos até agora. No futuro talvez  o genoma possa ser alterado para corrigir os desvios do passado. No presente, deve ser uma experiência incrível saber o que veio de nossa herança genética e o que passaremos adiante. 

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