Há alguns anos, pegava mal uma pessoa vestir uma roupa velha ou remendada, ainda que limpa. Roupa nova dava status. No máximo, o que pegava bem era “uma calça velha azul e desbotada”, expressão que rolou mundo como jingle das calças US Top fabricadas pela Alpargatas, então controlada pelo grupo argentino-americano Bunge Y Born.
Agora mudou. Está na moda vestir calças jeans rasgadas. Não basta que sejam desbotadas e puídas. Não basta que as rasuras sejam nos joelhos. É preciso abrir rasgos nas coxas. Quanto mais rasgos constrastantes, mais “in”. Desnecessário lembrar que se trata de um modismo feminino.
Costureiros, cabeleireiros, designers exageram no rebuscamento para criar coisas que permanecem em cartaz por uma estação, se tanto. O que determina o sucesso ou o fracasso de uma roupa?
Por que tantas morenas querem pintar o cabelo de louro?
Por que tantas pessoas pagam para tatuar o corpo?
A moda é uma coisa nebulosa, controversa. Mas em 1987 o filósofo francês Gilles Lipovetsky publicou o livro O Império do Efêmero em que classifica a moda como um sintoma da organização das aparências na sociedade ocidental moderna.
O que vem a ser isso? Para Lipovetsky, a moda reflete o domínio das elites sobre as massas. Efetivamente quem cria os modismos são pessoas com tempo e dinheiro para experiências estéticas com materiais disponíveis.
Ser prático, barato e durável ajuda, mas pode entrar na moda algo exótico, caro e descartável.
Os modismos não são objetos de fácil racionalização.
As tais calças rasgadas…Como explicar que uma mulher de classe média ou da classe alta faça questão de usar uma calça cujo tecido contenha buracos ao longo das pernas?
O que se quer demonstrar com tamanho “despojamento”?
Sem dúvida, a moda não teria a força que tem sem o concurso dos meios de comunicação de massa. É a mídia que a identifica, registra, repercute, cultiva e descontrói, num jogo contínuo que se perpetua graças a “gurus” incensados por comunicadores pagos para alimentar o grande carrossel dos costumes mutantes.
Na música, salvo explosões esporádicas de um outro astro da canção, o sucesso é sustentado pelo jabá, nome popular da propina na indústria do entretenimento.
De fato, pensando bem, em tudo há uma forma de propina. Na maioria dos casos, o nome da coisa é MARKETING ou, seja, “money”, dinheiro.
Serão as calças furadas um sinal de que os esfarrapados tendem a dominar o mundo?
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Nada sabemos do futuro, exceto que diferirá do presente”. Jorge Luis Borges, escritor argentino (1899-1986)