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O mistério dos ipês

Os ipês roxos da minha rua floriram pela segunda vez em 2013. A primeira florada tinha sido em junho.
 
 
Os ipês são como relógios biológicos: costumam florescer uma vez por ano. Geralmente em julho. O que houve desta vez?
 
 
Não foram apenas os ipês. As quaresmeiras que tinham flores em março voltaram a florir em pleno inverno. E no veranico de agosto as pitangueiras (que dão pitangas duas ou três vezes por ano, dependendo da região onde se encontram) desperdiçaram uma florada que não resultou em frutos por falta de luz e calor.
 
 
À luz dos nossos parcos conhecimentos sobre a linguagem da flora, a duplicação da florada dos ipês é uma anomalia, mas a pergunta que fica é: por que essas árvores, entre tantas que existem nas ruas e nos parques, mudaram seu comportamento em 2013?
 
 
Deixando de lado a transgenia, fruto de intervenções humanas, será que todas as plantas estarão sofrendo alterações naturais e nós humanos somos incapazes de percebê-las?
 
 
Perguntei ao zelador do prédio vizinho se havia se dado conta da floração extraordinária  do ipê. “Ah, é?”, disse ele, que todas as manhãs varre as folhas e flores da calçada. Ele está há vinte anos na função e parece ter perdido a noção das estações. Quanto às plantas, tende a praticar e recomendar podas onde estas não são nem úteis e nem necessárias.
 
 
Não sabemos o que nos dizem as árvores, pois elas não falam a nossa língua, apenas nos oferecem o verde de sua folhagem, a cor de suas flores e o sabor de seus frutos. O que é bastante e nos custa pouco cuidado.
 
 
São testemunhas silenciosas que talvez estejam a nos comunicar algo com sua linguagem vegetal. Sob calor resplandecem, sob frio se desfolham.
 
 
Como os espelhos, elas refletem mas não funcionam como oráculos capazes de nos dizer o que vai acontecer com o clima da Terra no futuro.  
 
 
Se é válido acreditar que as famosas mudanças climáticas podem levar a mudanças biológicas, talvez a dupla florada dos ipês esteja sinalizando isso. Todo ano aparecem os “sinais” do tempo. Ou do Tempo.
 
 
Este ano, pela primeira vez, a neve se acumulou na “cordilheira dos andes” de Santa Catarina. Rendeu um cartão postal aos que se orgulham de possuir algo parecido com os “alpes”.
 
 
Esses fatos nos confundem. Por que neva no Sul do Brasil se estamos em plena época de aumento da temperatura global supostamente por causa do efeito-estufa?
 
 
Ou será que as famosas mudanças climáticas deram uma trégua? Mas que trégua é essa que matou lhamas (mortas pela neve) na cordilheira dos Andes? A morte desses animais pelo frio andino equivaleria a capivaras morrerem afogadas nos banhados brasileiros.   
 
 
Segundo os cientistas, a década de 2000 a 2010 foi a mais quente desde a Era Industrial (iniciada há 200 anos) e 12 dos 14 anos mais quentes se deram depois da virada deste milênio. Agora teria entrado em ação novamente o fenômeno chamado La Niña, que provoca o resfriamento das águas do Oceano Pacífico e, por tabela, um refrescamento da superfície terrestre. Nada muito acentuado, mas o suficiente para alterar, quem sabe, o metabolismo das plantas.
 
 
Serão os ipês os tradutores dessa alteração? Seremos algum dia capazes de compreender o que nos comunicam? 
 
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“As plantas são nossas tias biológicas”
 
Carl Sagan, astrônomo, autor do livro Cosmos, que virou série de TV

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