O ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), ao desistir de sua candidatura à prefeitura de Vitória, garantiu, a princípio, o fortalecimento da pré-candidatura do prefeito Luciano Rezende (PPS), ao mesmo tempo em que provocou o enfraquecimento do seu próprio partido na disputa. Além de deixar claro o seu alinhamento com o grupo do ex-governador Renato Casagrande (PSB).
O mais prejudicado nessa história foi o governador Paulo Hartung (PMDB) na sua pretensão de continuidade no poder, em que a derrota de Luciano em Vitória é preponderante. Já que passa pela Capital o carimbo do passaporte dele para gerir as eleições de 2018, onde estarão em disputa o governo e o Senado.
Nesse grau de importância, Hartung tentar tirar Luiz Paulo da companhia de Luciano é deixar o eleitorado classe média da Capital à deriva. Esse eleitorado passaria a ser disputado por outros candidatos, principalmente pelo candidato que o governador Paulo Hartung inventou: o deputado estadual Amaro Neto (SD). Uma tarefa, aliás, nada fácil, pois Amaro explode na periferia, mas não dá um passo sequer para dentro do eleitorado das classes A e B.
É nesse contexto que vem à tona a decisão da Justiça que condena Luiz Paulo por improbidade. A condenação, que ainda cabe recurso, arranha a imagem do tucano principalmente junto ao eleitorado de classe média, que concedeu dois mandatos a Luiz Paulo para governador Vitória. A condenação, independentemente do mérito, isto é, se Luiz Paulo tem ou não culpa no cartório, aparece em um momento estratégico do jogo político. É impossível não supor que o processo ganhou velocidade impressionante porque deve o dedo de Paulo Hartung, que insiste em repetir que está alheio à disputa eleitoral deste ano.
Proposital ou não, a decisão terá efeitos eleitorais diretos na disputa, pois o apoio de Luiz Paulo passa a não ser tão edificante. Desacreditar Luiz Paulo justamente no momento em que ele deixa o grupo do governador para passar para o time rival do Palácio Anchieta, não tem nada de coincidência. Insisto, independentemente do mérito do caso envolvendo Luiz Paulo.
Ao passar para o outro lado, Luiz Paulo passou a receber tratamento diferenciado do Ministério Público e do Judiciário, que não costumam tratar com o mesmo rigor as denúncias envolvendo o governador e seus aliados. Hartung está no seu terceiro mandato é pode-se dizer que é um homem público totalmente blindado. É só recorrer aos arquivamentos de denúncias contra ele e “fabricar” decisões para censurar conteúdos jornalísticos que expõem as mazelas do seu governo.
Na edição de A Tribuna deste domingo (31), o governador apareceu jurando, mais uma vez, que não é candidato à reeleição, e que se mantém fora da eleição deste ano. Repetindo o mesmo disfarce das eleições passadas. Pois nesta, como nas outras, o dito é falso. Seu DNA está impregnado nas principais candidaturas, para fortalecer aliados e desidratar adversários, muitas vezes com uma mãozinha das instituições.
O pior é que a imprensa corporativa está a serviço dessa causa. É só somar quantas vezes PH já apareceu para repetir essa ladainha aos jornais A Gazeta e A Tribuna. Não deixa de ser uma cumplicidade que afeta a democracia capixaba.