A Assembleia Legislativa tem convivido desde o início do ano com uma série de matérias espinhosas oriundas do governo do Estado. A base tenta justificar a aprovação dos projetos, sempre com a mesma ladainha de que isso ajudará o governo e o Estado, mas nem sempre essa história convence.
No primeiro semestre os deputados aprovaram o cheque em branco para o governo mexer no Orçamento, o Plano Estadual de Educação e a polêmica Escola Viva, tudo sem uma discussão que caminhasse para os interesses da sociedade, apenas para cumprir o determinado pelo governo.
No segundo semestre, não está sendo diferente. Na sessão dessa segunda-feira (28), houve a “flexibilização” da legislação ambiental, que para bom entendedor, permitiu as monoculturas, sobretudo a do eucalipto, possa se ampliar no Estado sem a necessidade de estudo de impacto ambiental.
Uma temeridade, como afirmou o deputado Sérgio Majeski (PSDB). Por alertar, os deputados sobre a aberração que estavam aprovando, o deputado foi hostilizado na Casa. Sem argumentos para contrapor com razão os apontamentos do tucano, os deputados isolaram o deputado.
E tudo foi feito como o governador desejava. Os parlamentares demonstravam certo constrangimento em defender algo indefensável e o mesmo olhar foi visto em outras matérias, mas o comprometimento com o governo falou mais alto. Na mesma sessão, a deputada Luzia Toledo, que é do PMDB, partido do governador, reclamou de um veto ao um projeto dela. Reclamou da Procuradoria do Estado e não do governador, que é quem assina o veto, mas reclamou.
As reclamações tem sido constantes, com a ida do governador à base dos deputados sem convidá-los para eventos públicos, os constantes vetos a matérias que em nada prejudicariam o Estado, com a falta de diálogo com governo, com o envio de matérias sem a prévia discussão com os parlamentares, com o não atendimento às indicações de obras ou de cargos.
Enfim, os deputados estão sofrendo o desgaste por aprovarem matérias espinhosas e não estão recebendo qualquer contrapartida, nem afago do Executivo. E isso tem um preço, que pode ser cobrado em 2018 ou mesmo em 2016, já que metade do plenário está cotado para as disputas municipais no ano que vem. O que eles vão entregar às suas bases? Vão ter de abordar o eleitor de mãos vazias? Pelo visto, sim.
Paralelamente a isso, a maioria do plenário vê que os parlamentares que não abaixam a cabeça para tudo estão se sobressaindo. Basta ver a popularidade de deputados como Enivaldo dos Anjos (PSD) e do próprio Majeski (PSDB). Esses, se conseguirem com seus partidos entrar no debate eleitoral do próximo ano, terão uma cartela de serviços a apresentar para a população.
Enquanto parte do plenário acreditar que o governador Paulo Hartung é o mesmo de antes: um gestor de pulso forte, com ingerência total com os demais poderes do Estado e com as forças políticas, tudo isso suportado por uma vitrine política blindada com a população, os deputados vão sofrer desgastes sucessivos na Assembleia e pagar uma conta que não é deles.
Fragmentos:
1 – O ex-governador Renato Casagrande (PSB) recebeu nessa segunda-feira (28), a comenda Glauber da Silva Coelho, oferecido pela Câmara de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, pelos “relevantes serviços prestados ao município e seus cidadãos”. O governador, que é natural de Castelo, recebeu também o título de Cidadão Benemérito.
2 – Também nessa segunda, o governador Paulo Hartung (PMDB) esteve em Brasília, no gabinete do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, junto com o diretor do Banco Mundial no Brasil, Martin Raizer, para a assinatura de parceria para executar o Programa de Gestão Integrada das Águas e da Paisagem.
3 – Com a saída de Luiz Emanuel do PSDB, o partido poderia questionar seu mandato na Justiça Eleitoral, mas é melhor deixar isso quieto. Os episódios envolvendo o vereador já trouxeram muita dor de cabeça.