Sábado, 20 Abril 2024

O que há por trás do gesto da mudança?

 

Depois da euforia de vencer uma eleição disputadíssima, o prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), tem outro grande desafio pela frente: precisa provar ao eleitor que a mudança prometida não se restringe a um virar de mãos e a um jingle de sucesso que permanece “colado” até hoje nas mentes das pessoas. 
 
Na entrevista que deu ao jornal Século Diário (publicada nesta quarta, 31), Luciano mostrou que está preparado para governar a Capital capixaba. O prefeito eleito assegurou, por exemplo, que sua equipe de governo será definida a partir de critérios técnicos, contrariando a lógica “clássica”, que costuma distribuir os cargos de acordo com o tamanho dos partidos e dos compromissos assumidos durante a campanha. 
 
Luciano reafirmou, como prometera durante a campanha, que irá governar junto com a população. Ele promete fazer uma mudança radical no modelo de gestão participativa: “Vamos colocar isso já na transição. A transição começa na semana que vem com oito audiências públicas nas regiões da cidade e o gabinete itinerante”. 
 
A participação mais efetiva da população na gestão é sempre uma iniciativa bem-vinda. No entanto, a partir do momento que o prefeito dá espaço para a população ele gera demandas, algumas delas, necessariamente, vão esbarrar em interesses políticos ou econômicos. 
 
Vamos pegar como exemplo o problema crônico da poluição em Vitória. Muita gente sabe que a grande responsável pela péssima qualidade do ar na Capital e a Vale, que despeja todos os dias grandes quantidades de pó de minério no ar que respiramos. 
 
Quando demandas como essa chegarem à sua mesa, Luciano deverá estar pronto para o enfrentamento, pois alguns problemas são empurrados há anos de prefeito para prefeito, justamente por conflitar com os interesses de grandes grupos. 
 
O problema ambiental é só um dos grandes desafios que a cidade tem pela frente. Há outros de complexidade semelhante, que também já se tornaram crônicos devido à leniência de gestores anteriores, que preferiram evitar entrar em “bola dividida”. 
 
O prefeito eleito também disse que não teme o fantasma da governabilidade. Para assegurar um bom trânsito com a Câmara, ele aposta na boa relação que tem com os vereadores. Ele lembrou que durante a campanha vitoriosa contou com o apoio de nove dos 15 vereadores. 
 
Luciano pretende usar a experiência que teve “do outro lado do balcão” para lidar com os vereadores. “Minha relação com a Câmara será de respeito institucional, até porque fui vereador por quatro mandatos e sei como incomoda um governo que não respeita e não sabe lidar com o Legislativo”. 
 
Mostrando maturidade política e espírito democrático, o prefeito eleito disse estar igualmente preparado para receber críticas da Câmara: “(...) nós receberemos com boa vontade, porque a crítica nos ajuda, eu sempre prestei muita atenção à crítica”. 
 
Luciano também aproveitou a entrevista para mandar recados e fazer alguns agradecimentos. Na sessão recados, ele se queixou que seu adversário (Luiz Paulo) pautou o debate na agressão. “Enquanto eu estava discutindo a cidade, estava sendo agredido”. Na sua avaliação, o eleitor percebeu e repudiou a estratégia agressiva de seu adversário. 
 
Com frases de efeito, Luciano também aproveitou para corrigir o tamanho do PPS, que sai da disputa com duas prefeituras na Grande Vitória. “O PPS é igual ao Líbano, pequeno demais para ser dividido e grande demais para ser anexado. Sempre disse isso internamente, que não podíamos nos dividir porque não teríamos estrutura para sobreviver”, profetizou, demonstrando que conhece estrategicamente o partido e por isso e o comandante da sigla no Estado. 
 
Em seguida, o prefeito eleito elogiou o papel de governador Renato Casagrande no processo eleitoral. Ele ressaltou que Casagrande teve percepção de estadista, respeitou as disputas eleitorais e foi “extremamente generoso com os três maiores candidatos na disputa”. Ainda acrescentou que o governador foi equilibrado, justo e respeitou o ambiente democrático. “Uma eleição de capital tem que ser decidida pela população, não pode ter ninguém tentando interferir nesse processo”, concluiu, deixando um recado direto para o ex-governador Paulo Hartung, que imiscuiu na disputa de 2008, quando Luciano foi derrotado por João Coser (PT)
 
Na sessão “temas polêmicos”, além das queixas em relação aos ataques do tucano, Luciano foi questionado sobre a pesquisa do Instituto Futura publicada no jornal A Gazeta na reta final da disputa, que dava ao seu adversário uma vantagem de três pontos no dia da eleição. 
 
Respondendo com muita elegância, mesmo na hora de tratar de assuntos polêmicos, o prefeito eleito admitiu que o Futura tem errado com ele desde 2008. Luciano, porém, não quis aprofundar a polêmica, mas afirmou que está fazendo uma reflexão cuidadosa sobre o caso. 
 
No balanço geral da entrevista, podemos dizer que o prefeito eleito de Vitória, que chega com o rótulo da mudança, parece estar preparado para enfrentar os desafios da cidade. Ele sabe que criou uma expectativa na população, que agora quer conferir se o gesto da mudança é capaz de transformar Vitória numa cidade melhor para se viver. 

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