Terça, 23 Abril 2024

O turno depois da eleição

 

Fui assaltado.
 
Calma, gente.
 
Fui assaltado por uma dúvida atroz (êpa!) sobre a coluna, não a cervical, mas a que vocês me dão o prazer de estar lendo.
 
Havia me preparado para falar das eleições, assunto que tenho evitado por haver mais incertezas que certezas. Por mais que eu evite, porém, meu “homus politicus” pulula para muito além do que possa imaginar. É que nasci numa casa onde se falava de política, por culpa de minha mãe, que vai fazer 90 anos em janeiro e que o Roberto Martins, a pessoa mais apaixonada pela profissão de polícia que jamais encontrei, ameaça tornar público que não visito há três meses por conta disso mesmo.
 
Pronto, Roberto, não precisa mais. Já falei. E mais: a “culpa sem culpa” é dela mesma, porque com 12 anos de idade eu vivia pelos comícios do Dr. Oscar como atração no palanque por causa dos versos que eu fazia juntando o nome dele e os dos candidatos a vereador dos distritos, inventando o meu marketing político. E, naquela época, um menino de 12 anos não frequentava esses ambientes, se não fosse em companhia da mãe ou do pai.
 
Divirto-me muito mais com as eleições no interior do que na Região Metropolitana. No interior, vira festa.  As pessoas se envolvem, talvez porque se conheçam melhor e, por isso mesmo, sintam o momento eleitoral com a alma. É algo que se parece que a democracia das antigas cidades gregas, que somente podiam crescer até o limite em que todos se conhecessem. A partir daí, criavam-se outras cidades.
 
O mundo dominado pelas ideologias contemporâneas, entretanto, vive culturas de massa e a massa não pensa, quem pensa é o indivíduo. Conscientemente, uma minoria controla o pensamento da massa. Não sei se, inconscientemente, um outro grupo de pessoas em posição de liderança, que age como feitores de fazenda, sobrecarrega mentes brilhantes com trabalho para que não consigam pensar. E assim se perpetua o poder. As mentes humanas, para que cumpram sua missão transformadora, necessitam do que Domenico de Masi chama de “ócio criativo”. A filosofia só existe por causa disso.
 
Então, a dúvida que me surgiu, como disse no começo, era se deveria continuar com minhas elucubrações sobre o momento eleitoral, que o cidadão sente com a alma e até visceralmente, quando as vísceras de muitos candidatos são expostas com todo seu fétido conteúdo, ou se caminhava pela inspiração que me ocorre com a história do Renê, o “repórter do Alemão”.
 
A história do Renê, e sua dedicação ao jornal da comunidade, chamou minha atenção porque remeteu-me, de novo, de volta à infância e adolescência em Alegre e me fez perceber que o ser humano não mudou, e que, como não mudou, pode mudar a sociedade a partir de seu próprio mundo individual,  que vai se juntar a outros mundos semelhantes por atração e fazer a transformação necessária – o que alguns amigos meus, por razões de sua própria história de vida, chamam de revolução.
 
Lembrei-me da irmã Inês de Castro e seu trabalho com os jovens do Guararema e como aquilo foi importante para um bom número de adolescentes de meu canto de rua. Éramos poucos no começo, menos de 10, mas em pouco tempo éramos uma centena por uma coisa muito simples: o poder da mobilização.
 
Mas, para não ficar cansativo, vou entrar nesse tema nas próximas semanas. Nesta, fica a expectativa do redesenho político do Estado, com as eleições municipais, que se avizinham, e algumas incógnitas, como o embate do senador Magno Malta e o ex-governador Paulo Hartung e a estranha postura do governador Renato Casagrande.
 
Fica também a certeza de que, em muitos municípios, as eleições vão continuar, porque há uma disposição muito grande dos membros do Poder Judiciário de fazer valer a Lei da Ficha Limpa, não como um intervencionismo, mas como consciência de que a Justiça é a âncora de uma sociedade de direitos. E o poder político foi tomado de assalto e precisa passar por uma depuração.  Rolarão as pedras e muita gente, que está se achando, vai ter que se encontrar depois.
 
 
 


José Caldas da Costa é jornalista, escritor, licenciado em Geografia. Contatos:

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