Os bastidores da Assembleia Legislativa, durante toda a semana, ficaram efervescentes. Mais do que a escolha do novo presidente do Legislativo estadual, o que mais movimentou as conversas nos corredores foram as articulações para o esvaziamento do palanque do presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM), na disputa à reeleição para o quarto mandato à frente da Mesa Diretora.
Essa movimentação pode representar o fim da Era Ferraço na Casa. E o presidente parece estar convencido que seu tempo no cargo está mesmo próximo do fim. Seus aliados, ainda tentam buscar alguns votos, mas os fatores não são favoráveis ao presidente. Por isso, ele mantém uma certa aceitação do inevitável.
Com fama de “guloso” para cargos, de defensor de seus interesses e de imprevisível, estaria pesando ainda mais contra Ferraço o fato de o governador não estar nada satisfeito com a ampliação do poder do presidente da Casa. Com a eleição de Max Filho (PSDB) em Vila Velha e a ascensão de Norma Ayub (DEM) à Câmara dos Deputados, a família Ferraço estava ocupando muitos espaços, o que não agrada o governador Paulo Hartung. Os problemas são internos e externos e aí fica difícil contornar.
A movimentação de Ferraço ia bem até o início do ano. Em 2016, quando conseguiu a aprovação da PEC que permitiria sua recondução na mesma legislatura, imaginava-se que a reeleição dele estaria consolidada, mas não foi bem assim.
Até porque, quem ajudou a pedir votos para aprovação da matéria na época foi o líder do governo Gildevan Fernandes (PV). Logo, os deputados entenderam que a manobra tinha aprovação palaciana. O silêncio do governo até então transparecia que não havia problemas para a recondução do demista. Pelo jeito, a manobra governista era dar corda às movimentações de Ferraço para esvaziá-las na reta final.
Mas, no almoço do governador com os deputados, no último dia antes do recesso, uma cutucada de Ferraço no governador pode ter sido o primeiro indício de que alguma poderia estar errada. E estava. Em meio ao recesso, Ferraço chamou os deputados para um encontro que mais pareceu reunião eleitoral. Fez até promessas de campanha.
Pouco depois, o governo entrou em campo para desmobilizar o grupo de Ferraço e deixar que o nome de Erick Musso (PMDB) se viabilize sem a mão explicita do Palácio Anchieta, mas sem sua rejeição. Para não atrapalhar a manobra, o governador deixou que seu vice-líder ganhasse espaço no plenário naturalmente, enquanto o Palácio esvazia a candidatura Ferraço.
Mais uma vez, como vem acontecendo desde 2003, o governo do Estado vai conseguir o presidente que quer na Assembleia, garantindo a tal “harmonia” entre os poderes. Não que Ferraço fosse representar alguma resistência. Mas, como Hartung ainda não sabe qual porta vai escolher em 2018, é melhor se livrar de qualquer tipo de obstáculo que possa atrapalhar uma de suas escolhas.