Onde acaba o erro e começa a manipulação?
Os erros sistemáticos dos institutos de pesquisas, país afora, nas eleições 2012, motivaram o deputado federal André Figueiredo (PDT/CE) a protocolar pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar o trabalho dessas empresas.
A insatisfação dos deputados com as pesquisas eleitorais parece geral. Tanto é que, mal o pedido foi protocolado, Figueiredo já conseguiu 54 assinaturas a mais do que as 171 necessárias para instalar a CPI, que pretende apurar se houve manipulações nos resultados das pesquisas.
No Espírito Santo, o trabalho do maior instituto de pesquisa, o Futura, foi questionado nas redes sociais e publicamente por pelo menos dois deputados: o deputado e prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende (PPS) e o deputado estadual do PT, Claudio Vereza.
Vereza, na primeira sessão da Assembleia após o segundo turno das eleições capixabas, subiu ao púlpito para denunciar que o Instituto Futura forjou os resultados. "Se não foi a Futura, foi o jornal [A Gazeta]. Há de se saber quem manipulou”, cobrou o deputado petista.
Luciano Rezende, embora tenha sido eleito prefeito de Vitória, também não ficou satisfeito com o trabalho do Futura. Em entrevista a Século Diário após as eleições, Rezende afirmou que o instituto vem errando com ele desde 2008 - se referindo ao pleito daquele ano, em que o Futura teria "facilitado" a vitória do então candidato à reeleição João Coser (PT); e desde ano, quando o seu adversário Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) apareceu, na véspera das eleições, com três pontos de vantagem sobre ele.
Além das divergências nos resultados da Capital, o instituto teve pesquisas questionados em outros municípios capixabas. Com a participação mais intensa das redes sociais nessas eleições, foram recorrentes os comentários que apontavam "manipulação" dos resultados.
Os institutos que erraram suas previsões se defendem. Creditam o desencontro dos números apurados na pesquisa ante o resultado aferido nas urnas a "fenômenos eleitorais".
A questão é polêmica. Faltam elementos para acusar os institutos de má fé. A população acaba ficando na dúvida e não se sente completamente segura para apontar o dedo para o instituto e acusá-lo de manipulação. Em contrapartida, pouca gente tem coragem de pôr a mão no fogo para validar os dados de uma pesquisa eleitoral.
Por isso, a instalação de uma CPI é bem-vinda. A investigação seria importante para levantar elementos e apontar se há ou não manipulação de resultados. Não se pode, no entanto, encaminhar a discussão para a extinção das pesquisas. Isso seria um retrocesso.
O caminho mais plausível talvez seja o de criar mecanismo para a regulamentação do trabalho dos institutos de pesquisa, que também não pode ser interpretado pelas empresas de comunicação como um mecanismo para cercear o direito de expressão. Afinal, quem está trabalhando corretamente, com a consciência tranquila, não precisa temer a fiscalização.
Se não houver uma regulamentação do trabalho dos institutos, a população vai continuar "com a pulga atrás da orelha" todas as vezes em que se deparar com uma pesquisa. E a pergunta vai permanecer no ar, como nessas eleições: "Afinal, os erros são contingências dos fenômenos eleitorais ou de manobras premeditadas para alterar o resultado das eleições?"
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