O terceiro mandato de Paulo Hartung (PMDB) tem uma peculiaridade. A estratégia do governador para se dar bem em tempos de crise é adotar dupla personalidade. Ora ele recorre ao discurso do caos, do Estado quebrado, do caixa vazio; ora se promove como o mago da economia, o governador que descobriu a receita para enfrentar e sobreviver com sucesso à crise.
É como se houvesse dois Paulos. Nessa segunda-feira (2), por exemplo, durante o almoço que ofereceu no Palácio Anchieta aos deputados estaduais, o anfitrião era o “Paulo do apocalipse”. Antes que os parlamentares ensaiassem passar o pires, o governador já foi logo pintando o quadro do caos. No clímax do discurso, chegou a dizer que estava revivendo 2003: cofres vazios, Estado quebrado e muitas dívidas.
Esse mesmo discurso tem sido útil para dissuadir os servidores públicos que alimentam expectativas sobre a reposição salarial ou o pagamento do vale alimentação, pleitos que já foram descartados pelo governador.
O “Paulo do apocalipse” já cansou de repetir que os servidores têm de levantar as mãos para o céu e agradecer que estão recebendo os salários em dia. Mas mesmo esse discurso também já ganhou um tom mais dramático nos últimos dias. Ele tem dito que já não tem tanta certeza de que o Estado será capaz de garantir integralmente o pagamento do funcionalismo este ano. É o “Paulo do apocalipse” pondo a política do terror para jambrar.
Ainda nessa segunda, durante a cerimônia de posse da nova procuradora-geral do Ministério Público, Elda Spedo, o governador voltou a incorporar o “Paulo do apocalipse”. Ele preveniu a sucessora de Eder Pontes que a contratação de mais de duas centenas de assessores para os membros do MPES é palavra proibida neste momento. Mesmo o órgão ministerial sendo tão complacente com o governador, na hora de pôr a mão no bolso, o “Paulo do apocalipse” se torna um avarento contumaz. O mesmo discurso tem servido para o Judiciário, que já parece resignado com a realidade do cobertor curto.
Mas há um outro Paulo com discurso diametralmente contrário ao da versão apocalíptica. É o Paulo que sai plantando notícias na mídia nacional, que quer ser reconhecido como o “mago da crise”. O único governador no País que tem conseguido domar a crise com sucesso.
Sem falsa modéstia, o “Paulo Salvador da Pátria” já disse a Dilma, e a essa altura deve também ter avisado ao Temer, que tem a receita infalível para enfrentar a crise. Ele tem dito que está disposto a fazer as vezes de “farol” para iluminar a saída do labirinto da crise para os governadores.
E o “Paulo Salvador da Pátria” vai ainda mais longe, e enche de inveja os colegas que sucumbiram à crise. O governador capixaba, além de manter as contas no azul, se gaba de manter os investimentos justamente nas áreas essenciais: saúde, segurança e educação. Só um mente genial teria capacidade para fazer uma gestão austera e ainda garantir entregas à população.
Na vitrine do “milagre capixaba”, o “Paulo Salvador da Pátria” destaca o Escola Viva como um dos programas mais espetaculares que esse Estado já viu na área de educação. Ele faz questão de exaltar também o Ocupação Social – uma iniciativa “única” na área de segurança. O governador garante que o programa é responsável pela queda extraordinária das taxas de homicídios no Estado. Sem falar na “revolução” que seu governo tem promovido na saúde, com a privatização da gestão dos hospitais. Mais espetacular é que ele fez tudo isso em menos de 18 meses, após herdar do antecessor, como ele gosta de falar, um “Estado quebrado”. É justamnete essa condição que o coloca acima de todos os outros governadores.
Foi plantando notícias como essas que o nome do governador foi “cogitado” para assumir o comando da Fazenda num eventual governo Temer. Mas os capixabas não precisam se preocupar. Ele já garantiu que, apesar do assédio (imagina, Temer deve ligar quase todos os dias implorando para ele aplicar o mesmo modelo no Brasil), vai cumprir seu mandato de governador até o fim, mesmo que com alguma alternância: ora como “Paulo do apocalipse”, ora como “Paulo Salvador da Pátria”.