Ganhou força entre os deputados a ideia de abrir uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostos grampos que estariam sendo feitos na Assembleia Legislativa. Nessa terça-feira (29), o deputado Sandro Locutor (Pros), suspeitando que a Casa estaria sendo grampeada, solicitou que a Mesa Diretora promova uma inspeção nos gabinetes parlamentares.
Outros deputados deram ressonância à suspeita. Gilsinho Lopes (PR) disse que as conversas telefônicas ou mesmos às confidenciadas entre as quatro paredes dos gabinetes muitas vezes vazam “misteriosamente”.
A iminente abertura da CPI, que deve ter o requerimento lido na sessão da próxima segunda (5) da Casa, se aprovada, tira do armário os esqueletos da comissão que teve epílogo melancólico decretado em dezembro de 2006. A primeira versão da CPI do Grampo foi arquivada no apagar das luzes daquela legislatura sem que o relatório final fosse ao menos lido em plenário.
Foram 16 meses de trabalho em vão. Além de nada esclarecer sobre as operações do sistema Guardião, a CPI serviu apenas para aumentar as interrogações em torno das escutas ilegais que ameaçavam instituições públicas e privadas.
Mas os próprios deputados que se mostraram determinados em desnudar a farra dos grampos sucumbiram à pressão do então governador Paulo Hartung (PMDB) e arquivaram a CPI de maneira patética.
A segunda versão CPI do Grampo pode ser ressuscitada agora justamente porque a primeira não cumpriu seu papel. A armação mal-ajambrada forjada nos bastidores da Assembleia para enterrá-la deixou os esqueletos expostos, trazendo sempre à tona a sensação de que algo precisa ser esclarecido. Ou alguém acha que a opinião pública engoliu a história mal contada pelo então secretário de Segurança Rodney Miranda, que alegou ter grampeado os telefones usados pela Redação do jornal A Gazeta “por engano”? Tudo isso durante uma das passagens da história recente do Espírito Santo mais nebulosas: a morte do juiz Alexandre Martins de Castro Júnior.
Ora, um delegado federal com o histórico de Rodney em grampos não cometeria a barbeiragem de “errar o número” grampeado. Mesmo que cometesse, teria ainda que contar com o deslize do juiz. Afinal, cabe a Justiça analisar com o máximo rigor quem deve ou não ter o sigilo telefônico quebrado. É difícil acreditar que ambos erraram.
O então governador Paulo Hartung nunca escondeu que investiu pesado no sistema Guardião. Alegava, à época, que as escutas eram cruciais para enfrentar o “crime organizado” que ameaçava as instituições capixabas. Mas como a CPI não concluiu seus trabalhos, deu margem para aumentar a suspeição em torno do uso ilegal de escutas. Ficou no ar que Hartung usou o grampo para fins políticos.
Considerando o retrospecto da primeira CPI, a nova suspeita levantada agora pela Assembleia não pode ser tratada como mera persecutoriedade dos deputados. Não seria de se estranhar que o governador recorresse novamente ao expediente das escutas para se manter sempre alguns passos à frente da Assembleia.