Fui surpreendido positivamente com a reflexão do professor Alexandre Aquino de Freitas, que só enriqueceu o debate em torno da coluna que escrevi no domingo passado (16/04/17) – “2018 sem PH e Casagrande”. Como o próprio título sugere, considerei praticamente nulas as chances do atual e do último governador disputarem as eleições de 2018, depois da hecatombe provocada pelas delações dos ex-executivos da Odebrecht que não deixaram pedra sobre pedra.
O professor Freitas pondera minha análise. Ele ainda acha cedo cravar um cenário sem PH, Casagrande e Luciano Rezende (também inclui o prefeito de Vitória entre os “desvalidos” de 2018). Em seguida, ele explica os motivos que sustentam sua tese, a propósito, bastante interessante. Mas se divergimos sobre alguns pontos nessa reflexão, o que, aliás, é muito saudável, acho que concordamos sobre a “boa surpresa” chamada Sérgio Majeski. Também concordo com o professor quando ele diz que o deputado do PSDB não deveria disputar o governo nas próximas eleições.
Mas vou insistir e tentar esmiuçar os motivos que me levam a crer que PH está fora da disputa, ao menos direta, de 2018. Posso considerar que entendo um pouco de PH para admitir que ele sempre foi um grande estrategista. Um especialista na “arte” de aniquilar adversários, ao mesmo tempo que tem instinto aguçado para identificar e criar novos atores para lançá-los na cena política com vistas a fortalecer seu grupo político.
PH, porém, sofre de uma deficiência grave: é um político que tem horror às ruas, ao povão. A estratégia da campanha ao governo de 2014 deixou essa deficiência muito evidente. O marqueteiro do então candidato ao Palácio Anchieta criou toda o marketing de campanha em cima do argumento “Abraço o Paulo”, que era uma estratégia para humanizar o candidato e aproximá-lo do povo. Não colou. Tão logo se elegeu, PH se trancou no gabinete novamente, abandonando o personagem de campanha num canto esquecido do armário.
Voltar às ruas, ainda mais depois das delações e de todo o desgaste político que tem sofrido, é um desafio e tanto.Refiro-me, obviamente, ao fato de suas ambições eleitorais estarem depositadas no governo ou Senado. Se quiser um assento na Câmara, aí são outros quinhentos. Acho que não teria nenhum problema. Seria uma eleição automática, sem a obrigatoriedade de ir às ruas e ficar cara a cara com o eleitor para pedir votos.
Isso não o impede, por certo, de optar por uma participação indireta na eleição, “fabricando” um candidato para disputar o Palácio Anchieta. O desafio passaria a ser escolher esse nome, considerando que PH enfrenta alguns problemas internos.
Caso do vice-governador César Colnago (PSDB), que se considera um nome credenciado para disputar o governo. Querendo ou não, Paulo Hartung terá que lidar com essa realidade. Afinal de contas, Colnago está no processo decisório de 2018 e não pode ser simplesmente ignorado.
Se a estratégia for mesmo lançar um candidato, é claro que PH recorrerá ao seu cesto política para encontrar um nome. Mas, seja qual for sua decisão, ele não poderá deixar Colnago de lado. Mesmo porque, o tucano tem o apoio irrestrito de outra liderança do PSDB importante na Grande Vitória, o prefeito de Vila Velha Max Filho.
Na coluna da semana passada, também inclui na lista dos “riscados” de 2018 o prefeito de Vitória Luciano Rezende (PPS). Na escala dos atingidos, vejo Paulo Hartung e o ex-governador Renato Casagrande (PSB) no topo, e Luciano coladinho nos dois.
No momento em que todos os holofotes estavam em cima de Luciano – graças à sua surpreendente manobra de criar a polêmica com a Cesan, pondo PH contra a parede – veio o tombo. Ou seja, todo mundo viu Luciano despencando da parte mais alta do palco. Se antes das delações ele era visto como um dos nomes mais bem posicionados para disputar o Palácio Anchieta em 2018, foi fulminado da fila de candidatos. Não sei se Luciano terá forças para se levantar do tombo a tempo de entrar na disputa.
Quanto a Casagrande, é preciso relembrar que mesmo antes das delações eclodirem, ele já vinha se esquivando quando o assunto era disputar o governo. Ele parece ter sentido o bom momento de Luciano e já vinha se conformando em abrir mão da disputa. Não esperava, porém, que os dois fossem arrebatados pelas delações. No caso, Casagrande acabou arrastando Luciano para a cova do caixa 2, ao pedir recursos, nominalmente, para a campanha do então candidato a prefeito na disputa de 2012.
Mas, afinal de contas, quais lideranças estarão na mesa de jogo em 2018 em condições de distribuir as cartas, independentemente do cargo disputado? Continuo fazendo fé em Majeski. Não sei que cargo ele pretende disputar em 2018.
Longe de querer defender uma candidatura do tucano ao governo – já me manifestei sobre isso na semana passada -, mas que Majeski chegou para ficar na cena política, chegou. O deputado terá influência certa na disputa. Majeski é uma dessas lideranças que o eleitor vai querer ouvir antes de dicidir seu voto.
Voltando à tese sobre PH fora de 2018, o fato é que o governador se acostumou a reger os processos eleitorais ao mais sutil movimento de sua batuta. Hoje não é mais assim. Longe disso, PH terá que se reinventar dentro desse cenário que se tornou hostil para suas pretensões políticas. Por isso, reafirmo, ante a incapacidade de PH superar esses desafios, o considero fora da disputa ao governo e ao Senado.
Em tempo: reitero que uma nova contribuição do professor Alexandre Aquino de Freitas será bem-vinda, assim como de todos os leitores que prestigiam o jornal e elevam a qualidade do conteúdo de Século Diário.