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Paulo Hartung 2015

Após ser eleito governador do Espírito Santo pela terceira vez, é premente a preocupação de Paulo Hartung (PMDB) em reformar sua imagem de perdulário dos cofres públicos. É notório que Hartung saiu das eleições com a imagem bastante arranhada após a disputa travada com Renato Casagrande (PSB) na corrida pelo Palácio Anchieta.
 
Durante a disputa vieram à tona graves denúncias contra o candidato do PMDB. Hartung, porém, foi driblando-as uma a uma e saiu das urnas com um milhão de votos sem dar satisfação à população, principalmente aos eleitores que não votaram nele.
 
Não explicou, por exemplo, por que a ex-primeira-dama Cristina Gomes viajou dezenas de vezes desacompanhada, e nos fins de semana, para o Rio e São Paulo com dinheiro público; não explicou as operações suspeitas da consultoria Éconos, que faturou em três anos cerca de R$ 6 milhões; não explicou o paradeiro dos R$ 25 milhões jogados pelo ralo na obra fantasma do posto fiscal de Mimoso do Sul; não explicou como escriturou um apartamento de luxo no valor de R$ 48 mil e, no mesmo dia, vendeu por R$ 2,1 milhões; não explicou por que a mansão de Pedra Azul foi omitida da declaração entregue à Justiça Eleitoral; não explicou tampouco por que criou uma empresa familiar para “tirar de seu nome” 31 imóveis herdados do pai.
 
Algumas ações premeditadas e declarações ensaiadas que têm dado à imprensa deixam patente a estratégia de Hartung de enterrar essas denúncias. Ele sabe que o Hartung 2015 não será mais aquele poderoso e onipotente governante de outrora. Dentro desta nova roupagem, desde a campanha, ele vem tentando construir uma imagem mais humana. Quer convencer a população de que será um governante próximo do povo. Não é por acaso que ele infestou de fotos seu perfil nas redes sociais distribuindo sorrisos e abraços aos eleitores. O governador eleito tem percorrido os municípios para mostrar ao povo que é um homem de carne e osso, que tem a hombridade de voltar simplesmente para dizer obrigado aos eleitores que o elegeram.
 
Por trás deste enredo de novela mexicana de segunda, Hartung se empenha, especialmente, para brecar o processo de corrosão da sua imagem de “bom moço”. Como já fazia durante a disputa para fugir das denúncias, o governador eleito, em todas as aparições na mídia, faz questão de reivindicar para si o papel de vítima. 
 
A estratégia é primária, mas vem funcionando com a ajuda da imprensa corporativa, que se encarrega de dar tons dramáticos ao discurso de Hartung. Ao assumir o papel de vítima — repetindo que os “ataques” atingiram a sua família e não pouparam nem a mãe dele de 82 anos —, Hartung desvia o foco das denúncias, o que de fato interessa, e passa a impressão de que foi alvo de uma sórdida conspiração que tinha o fim rasteiro de desconstruir sua imagem de homem probo. 
 
Nesse contexto, vale tudo. Até comunicar que está abrindo mão da sua segurança pessoal. Essa é mais uma maneira de ele mostrar que é um cidadão comum como qualquer outro. Não diz, obviamente, que foi ele mesmo o autor da lei que estendeu aos ex-governadores o direito de ter seguranças fornecidos pelo Estado. 
 
Ele também avisa que não vai morar na residência oficial da Praia da Costa, como se essa fosse mais uma demonstração de abnegação. Não interessa revelar, neste momento, que ele um homem muito rico, proprietário de dezenas de imóveis, entre os quais um luxuoso apartamento vizinho à residência oficial, que pode lhe proporcionar muito mais conforto e privacidade. Nessa lógica barata de Hartung, conveniência vira abnegação.
 
Todas essas ações de marketing servem para dar acabamento à nova embalagem do Hartung 2015, que retorna ao poder ainda mais austero. Um gestor à frente de seu tempo. O governante desapegado da coisa pública. 
 
A estratégia faz sentido para reverter o processo de desgaste da sua imagem. No fundo ele sabe que o Hartung que saiu das eleições, pelo menos para boa parte dos capixabas – sobretudo para os que não o elegeram -, é aquele que pintou e bordou com o dinheiro público. Essa parcela da população é a mesma que não se impressinou com a nova embalagem do Hartung 2015 e continua aguardando ansiosa que ele explique cada uma das denúncias tim-tim por tim-tim. 

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