Nessa segunda-feira (18), Século Diário publicou uma notícia sobre a pesquisa feita pelos estudantes do curso de graduação em Marketing e do mestrado em Sociologia Política da Universidade Vila Velha (UVV): Manifestação 16/8: perfil e percepções dos manifestantes em Vitória-ES.
O levantamento teve o intuito de traçar o perfil das ruas. Antes de entrar no teor da pesquisa, é preciso registrar que foi muita oportuna a iniciativa da UVV, mesmo sob algumas críticas de que há contradições no estudo, os dados são importantes para entender esse processo político no Espírito Santo.
A pesquisa da UVV feita em Vitória, guardadas as proporções de comparação, tem alguns dados semelhantes aos do DataFolha, que traçou o perfil dos manifestantes da cidade de São Paulo que tomaram a avenida Paulista nesse domingo (16).
Segundo o DataFolha, mais de 50% ganham de R$ 3,9 mil a R$ 15,7 mil. Outros 14% têm renda que varia de R$ 15,8 mil a R$ 39,4 mil. Apenas 6% recebem menos de R$ 1,5 mil. Esse recorte por renda deixa claro que a maioria dos manifestantes paulistanos (64%) são das classes A e B, segundo parâmetros de renda do IBGE.
O levantamento da UVV também confirma o perfil elitista dos manifestantes capixabas: mais de 60% dos que ocuparam a Praça do Papa também pertencem às classes A e B. O percentual de participantes da classe D (até dois salários mínimos), porém, foi quase o dobro em comparação a São Paulo.
Os perfis etários dos manifestantes das duas capitais também é bastante semelhante. Na Paulista, 70% tinham mais de 36 anos. A pesquisa da UVV parte de intervalos etários um pouco diferentes, mas 68% tinham mais de 31 anos.
O nível de escolaridade dos manifestantes da Paulista e da Praça do Papa também bate. No levantamento da UVV, se somarmos os que disseram ter superior incompleto (18%), os índices ficam parelhos novamente: 76% de São Paulo contra 74% de Vitória.
Segundo o Datafolha, 75% se declararam brancos; 17% pardos e 3% pretos. A UVV não fez a classificação por cor ou raça dos manifestantes, mas os cruzamentos de outros dados da pesquisa permitem deduzir que o resultado também seria bastante semelhante ao de São Paulo. Por exemplo, a maioria dos manifestantes capixabas mora em bairros nobres de Vitória, Vila Velha e Serra.
A opinião sobre se é contra ou a favor das cotas para universidades públicas também ajuda a deduzir que o ato reuniu maioria branca em Vitória. Quase 60% são contra as cotas; parcialmente ou totalmente; além de uma minoria desse universo (2%) que se disse indiferente.
O estudo da UVV aponta contradições flagrantes em algumas respostas. Por exemplo, mais de 87% têm alguma, pouca ou nenhuma confiança na polícia. Só 12% confiam plenamente na instituição. Mas, ao mesmo tempo, a maioria (67%) concorda que a PM só deixa de atuar pacificamente quando os protestos também não atuam dentro
da ordem.
O posicionamento político do manifestante também é contraditório em algumas respostas. A maioria (82%) diz que votou no tucano Aécio Neves no segundo turno das eleições para presidente da República. Mas apenas 43% (quase a metade) afirmam que tornariam a votar no senador do PSDB em caso de novas eleições para presidente.
A propósito, sobre o impeachment da presidente Dilma, UVV e Datafolha partem de questionamentos diferentes, mas é possível verificar semelhanças nas respostas de paulistanos e capixabas.
O Datafolha apurou que 85% acham que Dilma deveria abrir mão do cargo. Os manifestantes de Vitória (20%) também acham que Dilma deveria renunciar. Mas quase 72% dos capixabas, a maioria, querem o impeachment. Apenas 5% defendem a permanência de Dilma na Presidência.
As semelhanças entre as duas pesquisas, repetindo, guardadas todas as proporções – não podemos esquecer que o Datafolha é um dos mais importantes institutos de pesquisa do País – mostram que apuração feita pelos estudantes da UVV reflete a realidade, apesar das críticas nas redes sociais de alguns internautas que não aceitam que os manifestantes, na sua maioria, fazem parte das classes A e B.
Gostando ou não, os dados confirmam que o manifestante que está indo às ruas pertence sim às elites.
Gostando ou não, outros dados do levantamento também mostram que o manifestante capixaba tem perfil mais conservador. Por exemplo, somente 7% concordam com a manutenção do bolsa família; só 14% são a favor das cotas em universidades; 22% apóiam a reforma agrária para terras improdutivas; quase a metade é contra a legalização do aborto; mais de 63% são a favor da redução da maioridade penal; e 82% têm muita ou alguma confiança nas Forças Armadas.
É preciso ponderar que parte dos que foram às ruas, a minoria, não concorda com as posições mais conservadores, mas a pesquisa quis traçar o perfil médio do manifestante. Nesse sentido, parece que chegou bem perto.