Quando eu era criança, pensava como criança, vivia como criança, reagia como criança. Hoje, que sou adulto, devo ser adulto, pensar como adulto, viver como adulto, reagir como adulto. Esta é a ordem natural das coisas e da evolução humana. Vivemos para aprender e amadurecer. Os que adquirem sabedoria, prolongam sua vida para usufruir dos bons tempos da maturidade.
Esse crescimento se dá não apenas em nossa vida física, mas também na emocional, social, espiritual e material-financeira e se manifesta no conjunto das pessoas, o que chamamos sociedade. Indivíduos que não crescem constituem sociedades atrasadas, ingênuas, presas fáceis de oportunistas.
Isso se complica ainda mais quando, junto com a falta de crescimento técnico-científico-informacional, para usar o raciocínio do grande geógrafo brasileiro Milton Santos, combinamos baixa resiliência moral e má formação cultural.
O capitalismo, sustentáculo da economia liberal, tem vantagens e desvantagens. Como vantagem, a oferta da oportunidade para as pessoas desenvolverem seus talentos e realizarem seus desejos materiais. Como desvantagem, a degradação espiritual situado no desenvolvimento da ganância e da rapinagem. Idealizo algo baseado na livre iniciativa e na solidariedade humana.
O que temo é que a segunda parte, a degradação espiritual, está preponderando, e isso tem a ver com políticas de educação para o mercado em vez de educação para a vida. Há verdadeiros “missionários” no Espírito Santo(como a articulista Ivana Zon, aqui do Século), no Brasil e no Mundo empenhados conduzir o homem de volta à sua essência, tentando humanizar o “homus capitalista”, levando-o a uma vida com sabedoria, sabendo visualizar as oportunidades e fugindo do “canto das sereias”.
Os adolescentes e jovens de hoje em dia nem eram nascidos, ou ainda não tinham consciência das coisas, quando caiu o último bastião do comunismo dogmático do mundo, o regime da Albânia, pequeno país com a população do tamanho do Espírito Santo, encravado no Sul da Europa, entre a Grécia e a antiga Iugoslávia, com um estreito de Mar Mediterrâneo a separá-lo do Sul da Itália, semelhante ao que separa Cuba de Miami, nos Estados Unidos.
A Albânia era uma espécie de mosteiro de clausura, governado por uma madre-superiora autoritária e dogmática. Mas, como qualquer nação do mundo, tinha lá sua poupança interna, conferida por sua produção primária de bens e serviços. Os longos anos de isolamento fizeram de seu povo ingênuo e inexperiente para lidar com o dinheiro. Um campo aberto para os oportunistas internacionais.
Se fosse me alongar, escreveria um livro, mas gostaria de deixar apenas uma reflexão, antes de propor-lhes a leitura de um consubstanciado e elucidativo artigo publicado no site do Fundo Monetário Internacional (FMI) para se compreender que o que aconteceu na Albânia pode acontecer em qualquer economia emergente, apenas com outro viés.
O Brasil, por exemplo. Vivemos aqui como se o mundo não existisse. Aliás, aqui na Rússia, na Índia e na China, rotulados como os Brics. O restante do mundo enfrenta uma crise sistêmica na economia, enquanto aqui, a despeito dos baixos índices de crescimento, acho que o menor dos quatro emergentes, viajamos em céu de brigadeiro.
Atenção: as aves de rapina do capitalismo financeiro vão para onde tem dinheiro. E o Brasil tem dinheiro circulando. O governo se ufana, e com razão, da inclusão de mais de 20 milhões de antigos miseráveis ao mercado de consumo e hoje nossa classe média já forma 60% de nossa população. Mas isso deve ser acompanhado de um sinal de alerta.
Temos um duplo problema: baixa resiliência moral (o “jeitinho” brasileiro) e um predomínio de ganância por “levar vantagem em tudo”, tão bem representado no nosso Congresso Nacional. Então, não é imaginação alertar para o risco de nossa economia e nossa poupança interna, que tanto custamos para controlar, serem assaltadas pelas aves de rapina.
Os mais cultos em economia correm esse risco com as especulações em Bolsas de Valores, os menos cultos com os esquemas de lucro fácil, a maioria deles em forma de pirâmides financeiras travestidas de negócios lucrativos, levando cativos os ingênuos, os incautos, os gananciosos e os preguiçosos, que desprezam o fato de que o dinheiro representa o valor de algum bem que se faça à sociedade.
Na página do Fundo Monetário Internacional (link ao final), existe um elucidante artigo cujo título é “A ascensão e a queda de esquemas de pirâmide da Albânia”, de Christopher Jarvis, que o baseou na obra “A Ascensão e Queda de esquemas de pirâmide na Albânia”, IMF Working Paper 99/98 (Fundo Monetário Internacional: Washington).
No resumo, ele explica que, durante 1996-1997, a Albânia foi convulsionado pela ascensão dramática e colapso de vários grandes esquemas de pirâmide financeira e o artigo discute a crise e as medidas outros países podem tomar para evitar desastres semelhantes.
A tradução do artigo “The Rise and Fall of Albania´s Pyramid Schemes” foi feita com o auxílio de programas eletrônicos. Os que dominam o idioma inglês podem conferi-lo, originalmente, acessando o link indicado ao seu final. No mais, é manter a lucidez o tempo inteiro e compreender que quanto mais facilidade, maior o risco.
Prefiro a visão de Stephen Convey que diz que ganha mais dinheiro quem serve a mais pessoas, ou seja, quem traz mais benefícios para a sociedade, que nos recompensa por isso.
O artigo do site do FMI está traduzido em meu blog www.josecaldas.wordpress.com ou pode ser lido no original em http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2000/03/jarvis.htm.
José Caldas da Costa é jornalista, licenciado em Geografia. Contatos: [email protected]