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O Mapa da Violência – Homicídios por Arma de Fogo no Brasil — aponta a evolução desse tipo de crime no País nos últimos 34 anos. Em 1980, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), os Homicídios por Arma de Fogo (HAF) cresceram 592%. Para se ter uma ideia do que esse índice representa em números, no período, 967 mil pessoas foram mortas a tiros.
 
O Espírito Santo, que sempre esteve no topo das estatísticas gerais de homicídios, como não poderia ser diferente, também se destaca nas taxas de HAF. Só em 2014, 1.290 pessoas perderam suas vidas vítimas de armas de fogo. Esse número representa uma taxa de 35%, o que confere ao Espírito Santo a quinta maior taxa do País. Comparativamente, a taxa capixaba é cinco vezes maior que a catarinense (7,5%), a menor do País; e bem superior à média nacional: 21%.
 
Mas o que chama mais atenção no Mapa da Violência são as mortes por arma de fogo relacionadas à cor e à faixa etária da vítima. O estudo do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz aponta que os jovens negros são principais vítimas. 
 
Os dados do Espírito Santo desconstroem o discurso do governador Paulo Hartung, que vem enaltecendo as reduções das taxas de homicídios à custa de muita publicidade institucional, que não reflete a realidade. 
 
De acordo com o Mapa da Violência, o Estado é vice-líder nacional em HAF na faixa etária entre um ano e 14 anos de idade. Isso mesmo, na interpretação crua da estatística, o Espírito Santo é o segundo Estado do País onde mais se mata crianças com uso de arma de fogo; e o quinto na faixa etária entre 15 e 29 anos. 
 
A partir desse índice chocante de matança de jovens no Espírito Santo, há outro ainda mais impressionante, que revela que a violência tem cor. Em 2003, morreram 229 brancos por AF (Arma de Fogo) ante a 648 negros (o estudo soma pretos e pardos). Em 2014, o número de vítimas brancas caiu para 169, enquanto o de negras subiu para 1.077. No período (2003 -2014), a taxa de HAF caiu 28% entre os brancos e cresceu 24% entre os negros.
 
Já o recorte que mede a taxa de vitimização de negros revela o quanto esse segmento (jovens negros) é mais vulnerável à violência. Em 2003, a taxa de vitimização era de 143% nesse grupo; em 2014 pulou para 326%. No comparativo nacional, o Espírito Santo detém a quarta maior taxa (46%) de HAF entre negros. 
 
Os números confirmam que o Estado não desenvolveu nos últimos anos políticas públicas capazes de reduzir o índice de HAF entre os segmentos mais vulneráveis da sociedade. Os jovens negros continuam sendo as principais vítimas da violência no Espírito Santo. 
 
Essas vítimas estão, sobretudo, nos bairros mais pobres, onde as políticas públicas são ausentes e as organizações criminosas acabam ocupando o espaço deixado pelo Estado, cooptando facilmente os jovens e os recrutando para o narcotráfico e outras práticas delituosas. 
 
Em meio a um quadro de realidade tão alarmante, causa indignação as palavras do secretário de Segurança Pública André Garcia, que está mais preocupado em adotar um discurso institucional burocrático, do que encarar a realidade e buscar soluções plausíveis para reduzir a vulnerabilidade desses jovens negros. Ao jornal A Gazeta (26/08/16), Garcia afirma que o “Ocupação social” é voltado justamente para esse segmento, e que ele tem expectativa na queda desses índices. Não explicou nada.
 
Em seguida, sem ter argumentos mais convincentes para justificar os altos índices de HAF entre jovens negros, o secretário tenta desqualificar os dados do Mapa, recorrendo a um argumento infundado. Ele pondera que os dados usados pelo Mapa da Violência incluem mortes acidentais e suicídios. Incluem, é verdade, mas os dados foram separados e é possível analisar somente os casos de HAF entre jovens negros.
 
Os dados apontam claramente que a violência no Espírito Santo, ao contrário do que mostra a publicidade governamental e o secretário André Garcia, tem cor e o governo do Estado tem feito muito pouco em termos de políticas públicas para reverter essa realidade, que só em 2014 tirou a vida de 1.077 negros, a maioria jovens, todos vítimas de arma de fogo.

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