A primeira prestação de contas do atual mandato do governador Paulo Hartung (PMDB) realizada na Assembleia Legislativa marcou mais uma tentativa do peemedebista de posar de “ambientalista”, como tem feito desde que a poluição do ar e a crise hídrica viraram temas de forte apelo popular. Como se não tivesse absolutamente nada a ver com a grave situação ambiental registrada no Estado, Hartung jura que a área sempre foi prioridade de suas gestões. Não cola.
Assim como nas vezes que apareceu tentando emplacar a imagem do governador cheio de boas intenções com o meio ambiente, o discurso de Hartung foi “mais do mesmo”. Fez promessas superficiais e citou ações do passado na tentativa de demonstrar alguma intimidade com a demanda da população. Se Hartung tem intimidade – e ele tem bastante – é com o outro lado, das poluidoras do Estado, com quem sempre nutriu relações promíscuas.
A não ser para sua claque e a mídia corporativa, esse discurso de ocasião dificilmente fará eco. Por mais que tente, não há como Hartung se desvincular das inúmeras concessões que fez às poluidoras nos seus dois mandatos passados. Período em que o Estado teve suas regras ditadas pelo “desenvolvimento a qualquer custo” e o governo protagonizou cenas lamentáveis para garantir os interesses da elite capixaba.
E, na verdade, essa nem é a real intenção de Hartung. Enquanto para fora ele veste sua máscara verde, segue com suas fortes articulações nos bastidores para conceder ainda mais benefícios às grandes empresas do Estado. Não só Vale e ArcelorMittal, como Aracruz Celulose (Fibria), Jurong, Manabi, portos e etc, etc e etc. Não foi à toa que escolheu a dedo Sueli Passoni Tonini, velha conhecida do mercado, para gerir esse sistema tão lucrativo para o governador.
A estratégia ficará ainda mais às claras com a realização do seminário do Planejamento Estratégico do governo, já anunciado para este mês. Quem ditará as regras é uma entidade também conhecida do mercado: a ONG ES em Ação, que reúne o grande empresariado do Estado.
Esse Hartung que agora faz questão de falar de poluição do ar, da água e da qualidade de vida, é o mesmo que se esquivou de perguntas sobre a área na campanha eleitoral. E, também, o mesmo que não perde sequer uma oportunidade de lembrar, com outras palavras, que seu governo não vai medir esforços para continuar concedendo privilégios ao setor privado, sobretudo no que se refere à renúncia fiscal, isenções ou aprovação de projetos poluidores.
Para não restar dúvidas – se é que elas existem – volto ao programa de governo de Hartung, com o título “Conexões para o Futuro: a retomada do desenvolvimento”. Prioridades: retomar o Plano ES 2025, elaborado em parceria com as elites capixabas; internacionalização da economia; maximização da exploração de petróleo e gás, construção de polos empresariais e garantia da implantação de portos; e desburocratização de condicionantes “discrepantes” dos empreendimentos.
Sobre a poluição do ar, Hartung nada mais fez do que repetir o discurso que tenta livrar Vale e ArcelorMittal de responsabilidade. “Estudos recentes identificaram outras fontes poluidoras que precisam ser permanentemente monitoradas e controladas”.
Agora me diz: alguém ainda cai no conto?