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Pra europeu ver

Gestores capixabas, hora ou outra, viajam ao “primeiro mundo” para ver de perto ações inovadoras, como o uso compartilhado de bicicletas, faixas exclusivas para as bikes e também para os coletivos. Sem dúvidas, medidas essenciais para o meio ambiente e a mobilidade urbana. De volta, empolgados, implantam os projetos, mas os resultados não chegam nem perto dos alcançados em cidades mais desenvolvidas do outro lado do Atlântico. Isso quando não têm efeito inverso, caso da atual polêmica, a Linha Verde, projeto do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS).

A intervenção propõe reduzir o número de automóveis circulando pela Capital, criando um corredor exclusivo para ônibus, táxis e vãs. A ideia, em sua concepção, é muito boa, afinal, menos automóveis na cidade significa menos poluição, menos tempo gastos nos deslocamentos. 

 
Mas, na prática, a primeira semana de operação foi um desastre. As reclamações foram tantas, que pipocaram ações na Justiça tanto por moradores isolados quanto por associações. Na tarde dessa quarta-feira (21), uma delas foi atendida por liminar do juiz Mário da Silva Nunes Neto, da Terceira Vara da Fazenda Municipal de Vitória, determinando a suspensão imediata do sistema, sob pena de multa diária (R$ 50 mil) para a Prefeitura. Entre as razões citadas pelo magistrado, estão o fato de a gestão municipal não ter discutido o projeto coletivamente e o aumento do tempo de deslocamento das pessoas no horário de pico. Esclareça-se: pessoas de carro.
 
O secretário de Transportes, Trânsito e Infraestrutra Urbana, Tyago Hoffmann, passou todos esses dias atuando como “bombeiro” para evitar os desgates à prefeitura. Pediu paciência e repetiu inúmeras vezes que a ideia é reduzir o números de carros circulando pela Capital. De fato, uma tendência mundial. Mas como a implantação de um corredor exclusivo para coletivos, por si só, convenceria as pessoas a deixarem em casa seus veículos, aderindo ao trasporte coletivo, um serviço historicamente ruim e cada vez mais decadente?

 

Um sistema de transporte eficiente, confortável, efetivo e com tarifa atrativa deveria ser o começo do processo, e não o fim. E o principal, que fosse tratado de forma metropolitana. Pois não são apenas os moradores da Capital que trafegam por Vitória, o mesmo o faz quem mora em Vila Velha, Serra e Cariacica, apenas para citar as cidades mais próximas. Neste caso, vamos combinar, convencer quem tem carro a usar o desumano Sistema Transcol torna-se tarefa quase impossível…
 
Os gestores brasileiros se esquecem que, antes de corredores exclusivos e bicicletas compartilhadas, a Europa fez primeiro seu dever de casa, ou seja, acabou com uma série de problemas sociais e estruturais. Entre eles, reduziu a desigualdade entre ricos e pobres, investiu em educação de qualidade, incluindo educação para o trânsito; e melhorou a infraestrutura das cidades, desde saneamento básico passando por estrutura viária e de transporte. 
 
Europeus deixam seus carros em casa, pois dispõem de muitas opções no deslocamento pelas cidades, desde trens, metrôs, lanchas e outras alternativas. Também adotam a bicicleta, pois possuem ciclovias humanizadas e interligadas (não o quebra-galho de Vitória). Com todas essas possibilidades, aprenderam a ter consciência de que o coletivo pesa mais que o individual, sempre. 
 
Inovador mesmo no Estado, “coisa de primeiro mundo”, seria todos os prefeitos da Região Metropolitana se unirem, com apoio do governo, para a implantação efetiva de um sistema de transporte coletivo eficiente, integrado, com tarifa atrativa e, acima de tudo, metropolitano! 
 
Na prática, são anos e anos de discussão, reacendida em todo início de mandato, sem que nada efetivo saia do papel. Nada de integração de um sistema de lanchas ao sistema de transporte, aliviando muitos moradores que estão do outro lado da baía em Vila Velha e Cariacica. Nada do metrô de superfície, nada de trens; enfim, nada de nada. A única alternativa de sempre é o monopólio das empresas de ônibus unidas num consórcio com concessão ad infinitum. E que, por sinal, aumentam anualmente os preços das passagens, sem efetivar qualquer melhoria na prestação do serviço. 
 
Alternativas de transporte metropolitano eficazes, campanhas sobre o tema. Somente assim será possível reduzir o uso de carros e tornar as cidades espaços mais humanos e menos agressivos ao meio ambiente.  
 
Qualquer medida, antes disso, será como “colocar a carroça na frente dos bois”.

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