As entidades de classe encontraram uma maneira de fazer protesto contra o programa do governo federal Mais Médicos. Nesta semana, no Espírito Santo, assim como em outros estados, o Conselho Regional de Medicina (CRM), o Sindicato dos Médicos (Simes) e a Associação dos Médicos do Espírito Santo (Ames) realizaram “blitze” em hospitais e unidades de saúde da Grande Vitória. A estratégia dos médicos era mostrar à sociedade que a saúde está doente não por falta de médicos, mas por falta de investimento em infraestrutura.
O mais curioso nessas visitas surpresas às unidades foi o espanto dos representantes das entidades de classe com uma realidade que já é uma velha conhecida da população e inclusive de boa parte dos médicos.
As frases exclamativas beiram o cinismo. O presidente do CRM-ES, Aloízio Faria, afirmou ao jornal A Tribuna (01/08), indignado: “Fiquei chocado com a situação dos hospitais, principalmente o São Lucas…”. Ele fez ainda uma grave denúncia. Disse que as unidades visitadas (São Lucas e PA de São Pedro, em Vitória; e Hospital Antonio Bezerra de Farias e PA da Glória, em Vila Velha) nessa terça-feira (30) não têm condições sanitárias de funcionarem.
“Pacientes que deviam estar internados na UTI estão internados em PA”, observou o presidente da Ames, Carlos Pretti. “Todas as unidades que visitamos estão precárias”, completou o presidente do Simes, Otto Baptista.
Ora, isso quer dizer que os médicos que estão à frente das entidades de classe não conheciam a realidade da saúde no Estado? Será que eles vivem enclausurados nas salas de suas instituições ou nos seus consultórios e por isso demonstraram tanto espanto ao se depararem com o “raio-X” da saúde capixaba?
Será que os doutores não levam ao menos dois dedos de prosa com seus colegas, aqueles que ainda encaram o desafio de se entrincheirar nos corredores dos hospitais públicos, que se parecem mais com hospitais de campanha, para se interarem da realidade da saúde?
Será ainda que eles não têm tempo de passar o olho pelos jornais ou assistir os noticiários para se informar sobre o caos na saúde pública?
Para piorar as coisas, eles falam com piedade da população que depende da rede pública de saúde, mas protestam suspendendo o atendimento a esses mesmos moribundos que padecem todos os dias nas filas sem fim de postos e hospitais, muitas vezes reclamando que não foram atendidos justamente por falta de médicos.