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Privatização não é só alegria

Depois do acidente do último domingo (10) que matou 11 jovens na BR 101 sul, a indignação tomou conta da classe política capixaba. De vereador a senador, passando por deputados estaduais e federais, todos têm se revezado para “bater” na ECO 101. Não é para menos. A concessionária é acusada de negligenciar o contrato de concessão que prevê, entre outras melhorias, a duplicação da rodovia – obra considerada essencial para a redução de acidentes. Nos últimos 80 dias 34 pessoas morreram em apenas dois acidentes.
 
Dentre as lideranças que têm atacando o consórcio, algumas têm batido mais forte. Caso do senador Ricardo Ferraço (PSDB), que para ganhar visibilidade, pede o cancelamento unilateral do contrato. Magno Malta (PR) tem feito críticas mais pontuais e moderadas, tratando a polêmica envolvendo o consórcio pela superfície.
 
Completando a trinca de senadores, Rose de Freitas (PMDB) disputa com o governador Paulo Hartung (PMDB) o protagonismo pelo destravamento das obras de duplicação. A senadora deu a volta em Hartung ao se reunir com o presidente Michel Temer na véspera do governador encontrá-lo em Brasília, nesta quarta-feira (13). 
 
Hartung, incomodado com a sombra da senadora, que, por ora, é a única virtual adversária a enfrentá-lo na disputa ao Palácio Anchieta em 2018, após a conversa com Temer, quis passar a mensagem que é ele quem vai convencer o governo federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a pressionar a concessionária a cumprir o contrato. 
 
A chamada da notícia no site do governo não deixa nenhuma dúvida: “Após pedido do Governador Paulo Hartung, ANTT e ECO Rodovias debatem duplicação da BR 101”. Hartung quer mostrar aos capixabas que ele, na condição de autoridade máxima do Estado, é quem tem força política para solucionar o impasse. Apesar da mensagem otimista, a leitura atenta da notícia deixa claro que Hartung voltou de Brasília sem nada nas mãos. 
 
Legalista, Hartung insiste na manutenção do contrato com o grupo Eco Rodovias, acreditando numa saída negociada para o impasse. Mas essa narrativa não convence alguns críticos, que avaliam que o governador tem tido uma postura muito condescendente com o consórcio. 
 
Faz sentido. Alguns perguntaria: Por que Hartung não aproveita todo o seu prestígio com a grande imprensa nacional para “meter a boca” na ANTT e no consórcio? Temer, apavorado com a onda de notícias negativas, talvez se esmerasse mais para fazer a Eco Rodovias cumprir o contrato. 
 
Vira e mexe Hartung é notícia nos jornais mais importantes do País. Depois de uma entrevista no Valor Econômico de página inteira, que lustrou sua imagem de gestor-modelo, o governador que criou a receita de enfrentar a crise, faz uma semana o governador comemorava outra entrevista, no mesmo jornal, em que o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa, após elogiá-lo como um dos políticos mais preparados do País, o incluiu como parceiro, no caso vice, numa eventual chapa à Presidência da República. 
 
A sequência de matérias positivas “cavadas” na imprensa confirma a competência da assessoria de Hartung, que é capaz de abrir espaço onde o governador quiser. Por que não usar o seu prestígio, por exemplo, para emplacar uma matéria (pode ser no Valor, que fala diretamente ao mercado econômico) e cobrar o consórcio a entregar o que está previsto no contrato? 
 
Ora, Hartung pisa em ovos com a Eco Rodovias porque não pode se voltar contra uma das suas principais convicções. Não é segredo para ninguém que Hartung é um ferrenho defensor das privatizações. Entusiasta do Estado mínimo, seria constrangedor para ele admitir que nem toda privatização é só alegria. Pior ainda seria fazer críticas agudas a grandes empresários. Logo Hartung que é tratado como “queridinho do mercado” justamente por sua defesa incondicional de políticas que os favoreçam. 
 
É oportuno lembrar que 27,5% da fatia do consórcio que administra a ECO 101 pertence a empresas capixabas. Algumas delas, inclusive, foram doadoras de carteirinha das últimas campanhas eleitorais de Hartung. Isso talvez ajude a explicar o discurso tolerante do governador. Seria ingenuidade não levantar suspeição sobre a relação do governador e dos empresários que compõem o consórcio. Ou alguém ainda acredita que os empresários são pessoas abnegados que financiam campanhas eleitorais pensando apenas no fortalecimento da democracia?

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