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Procura-se secretário de Segurança

Se o governador Paulo Hartung (PMDB) tiver um pouco de apego à sua imagem, dá imediatamente as contas para o Secretário de Segurança André Garcia. Depois das disparatadas declarações que deu à imprensa, não há mais clima nas polícias para Garcia se manter no comando da Segurança.

O Espírito Santo foi destaque nos jornais televisivos na manhã desta quarta-feira (10). Os apresentadores anunciavam com espanto a notícia de que bandidos estão assaltando delegacias de polícia na Grande Vitória. Uma das apresentadoras repetiu a manchete para não deixar dúvidas: “É isso mesmo, no Espírito Santo os bandidos estão roubando a polícia”.

Após a reportagem mostrar que cinco unidades policiais foram furtadas nos últimos 15 dias – duas delas por duas vezes -, o secretário André Garcia tentou explicar a bizarra sequencia de assaltos. Pressionado, sem ter um motivo plausível para justificar a constrangedora situação, Garcia decidiu transferir a responsabilidade para as polícias. Admitiu que a situação era vexatória e pôs os policiais em suspeição. Afirmou que se houvesse policiais envolvidos, seriam presos. Até há um policial envolvido, indicam as investigações preliminares, mas isso não justifica que o secretário coloque em xeque a instituição policial. Se o o próprio chefe da Segurança põe a polícia no topo da lista de suspeitos, há alguma coisa bem errada.

As declarações do secretário, obviamente, irritaram as polícias Civil e Militar. Os policiais entenderam que Garcia pôs em suspeição a instituição polícia para salvar a própria pele. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol-ES), Jorge Emílio Leal, disse que o secretário, pressionado pela opinião pública, quis rapidamente arranjar um bode expiatório para se abonar da responsabilidade.

O Sindipol publicou um texto ácido no site da instituição rebatendo a frase de Garcia, que classificou os roubos a delegacias como um “vexame”. Em formato de aforismos, o Sindipol explica ao secretário, didaticamente, situações que vêm ocorrendo na polícia, que de fato podem ser chamadas de vexame.

Vexame é desmantelar a polícia judiciária capixaba por inanição, descaso, abandono e omissão diante das precariedades.

Vexame são os cortes e reduções impostos na instituição policial, como: internet, combustível, pneus, recursos materiais e de humanos.

Vexame é tentar achar um bode expiatório, um boi de piranha, numa busca rápida por uma resposta “alienígena”, quando não se tem concurso público para investigador desde o ano de 1993.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado (Sindepes) e a Associação dos Delegados do Estado (Adepol-ES) foram mais diretos: pediram logo a cabeça do secretário.

Nessa quarta-feira (10), as duas entidades enviaram ofício ao governador Paulo Hartung pedindo a saída de André Garcia. O desabafo dos delegados é uma resposta aos recentes roubos a delegacias e às declarações do secretário de Segurança, que pôs em suspeição o envolvimento da polícia nos furtos, expondo a imagem de toda a instituição.

Nesta quinta-feira (11), na esteira da repercussão, a imprensa corporativa foi ao socorro do secretário, quis mostrar que, como Garcia prometera, a ação criminosa “não ficaria barato”.

É preciso parar de tratar o secretário como vítima. André Garcia não chegou ontem ao Espírito Santo. Ele está na Segurança desde 2007, quando o então secretário Rodney Miranda teve a malograda ideia de trazê-lo de Pernambuco para ser seu braço direito. Ambos, aliás, são responsáveis pela desastrosa gestão à frente da Segurança Pública, especialmente pelo sucateamento das polícias e a explosão das taxas de homicídios no Estado.

Garcia já teve tempo de sobra para conhecer a realidade do Estado e das polícias. Nestes quase oito anos que está no Estado, além da Segurança, Garcia teve passagem pela Ações Estratégicas e Justiça, antes de reassumir novamente o comando da pasta.

As oportunidades que recebeu dos governos Hartung e Casagrande já foram mais do que suficientes para provar que o secretário é fraco. Ao longo destes anos, o Espírito Santo não conseguiu desenvolver um programa de Segurança realmente efetivo, capaz de mudar a realidade da violência no Estado.

O Estado Presente, implantado no governo Casagrande – que agora ganhou novo nome (Ocupação Social) -, é apenas uma ação importante, mas não passa disso. Prova de que não há um programa de Segurança efetivo no Estado são os números: continuamos, há mais de uma década, na vice-liderança nacional de homicídios. Esse, por si só, é um significativo dado que mostra que as coisas não vão bem na Segurança.

André Garcia tem se mostrado omisso, Ele não poderia ter aceitado que o atual governo fizesse cortes na Segurança – área essencial e, acima de tudo, crítica no Estado. Se o secretário fosse comprometido em reverter a criminalidade no Estado, teria dito ao governador que não aceitaria cortes na Segurança, mas que precisava sim de mais investimentos. Se a reivindicação desagradasse Hartung, Garcia deveria, dignamente, entregar o cargo e dizer: “Então isso não serve pra mim”.

Os episódios dos furtos a delegacias, são mais um sintoma dessa omissão do secretário. Há anos os delegados vêm denunciando que as delegacias estão sucateadas e, consequentemente, mais vulneráveis. Este jornal publicou recentemente reportagens que exibem a caótica situação das delegacias, sobretudo no interior.

Garcia não explicou à população, que no embalo dos cortes, mandou cancelar os contratos com as empresas que faziam a vigilância de algumas delegacias. Não disse tampouco que a maioria das delegacias não conta com sistema de videomonitoramento, alarmes ou cofres. Armamentos, drogas, dinheiro ou qualquer outro objeto de valor apreendido ficam guardados na singela gaveta do delegado, portanto, vulneráveis.

Mas o secretário mostrou que não tem humildade para admitir seus erros, e insiste em adotar medidas equivocadas para se desviar do real problema, que é a falta de recursos. Para mostrar que não está passivo diante do caos instalado, Garcia, ao lado da chefe de Polícia, Gracimere Gaviorno, anunciou que policiais civis a partir de agora vão vigiar as delegacias.

É o fim da picada. Num dos estados onde mais se mata e que tem a vexatória marca de ser um dos recordistas em inquéritos de homicídios inconclusos, o secretário decide tirar os quase extintos investigadores das ruas (o último concurso foi em 1993) para colocá-los na função de vigias. Isso mesmo, os policiais que deveriam investigar crimes vão vigiar o patrimônio da polícia para que o Estado não seja mais roubado. Enquanto isso, o cidadão fica entregue ao deus-dará. Essa é a política de Segurança do atual governo.

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