Num passado recente, as eleição de 2002 para governador do Espírito Santo foi a última mais disputada. Naquele ano, Max Mauro (PTB) e Paulo Hartung, então no PSB, brigavam voto a voto. No final, Hartung liquidou Max, mas não com tanta folga: 54% X 41,5% dos votos válidos.
Apesar da vitória de Hartung ainda no primeiro turno, o eleitor teve possibilidade de escolher entre duas propostas distintas, o que permitiu o debate de ideias — condição que sempre enriquece o processo eleitoral.
De Hartung para cá, porém, a democracia saiu perdendo. O ex-governador, que pôs em prática o arranjo da unanimidade e passou a definir quem seria ou não eleito nas mesas de reunião, tornou o processo político desinteressante e previsível. Maçante mesmo.
Meses ou até anos antes das eleições, os eleitores já sabiam quem seria o próximo governador. As urnas comprovariam as previsões, ou melhor, os acertos. O arranjo da unanimidade, sustentado pela tese da ameaça do crime organizado – o persecutório fantasma que poderia assombrar os capixabas a qualquer momento -, assegurou uma vitória maiúscula a Hartung em 2006. A essa altura no PMDB, Hartung obteve mais de 77% dos votos válidos. O segundo colocado, o ex-prefeito da Serra Sérgio Vidigal (PDT) teve apenas 21,7% dos votos. Os outros quatro candidatos foram “risco”.
O arranjo funcionou novamente em 2010. O então candidato Renato Casagrande (PSB), depois de acertar sua eleição no gabinete – com a saída do então vice-governador Ricardo Ferraço do páreo, confirmou a vitória nas urnas, como já era esperado.
Com 82,3% dos votos válidos, Casagrande experimentou o auge do arranjo da unanimidade. Seu adversário, o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas, obteve parcos 15,5% dos votos.
Logo que se sentou na cadeira de governador, o socialista não escondeu, nem um dia sequer, que faria o possível e o impossível para manter a base de apoio ao seu governo e repetir a edição vencedora da unanimidade.
Mas o céu de brigadeiro que pairava sobre o socialista se fechou a partir do momento em que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), decidiu que queria disputar a presidência com Dilma.
A decisão do pernambucano causou fissuras imediatas no alicerce da base de Casagrande, principalmente em relação ao PT e PMDB. As movimentações de Campos e as mudanças que se sucederam no tabuleiro eleitoral de Brasília também encorajaram outras lideranças capixabas.
Hoje, o mercado político considera três candidaturas factíveis no Estado. A do próprio Casagrande; a do ex-prefeito de Colatina Guerino Balestrassi (PSDB); e a do senador Magno Malta (PR) — o último a acenar para a disputa de 2014.
A candidatura do senador peemedebista Ricardo Ferraço, que nos últimos dias tem se insinuado na disputa, ainda deve ser vista com reservas. Os movimentos de Ferraço, pelo menos por enquanto, parecem muito mais voltados para dentro do partido do que necessariamente para se lançar numa disputa franca ao governo.
Mesmo sem contabilizar Ferraço, o cenário com três candidatos já é de longe melhor que dos últimos dois pleitos, onde o nome daquele que seria o futuro governador foi decidido numa mesa de reunião e apenas chancelado pelas urnas.
Talvez em 2014 o eleitor tenha de volta debates mais vigorosos, em que prevaleçam o confronto de ideias, o contraditório. Elementos que fazem do processo eleitoral um ato pleno de democracia, onde a decisão da disputa se dá exclusivamente nas urnas.