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Que nome vamos dar a isso?

Num filme animado passado na Idade da Pedra  os primeiros humanos se dedicam à tarefa de dar nomes às coisas – Como vamos chamar isso? E assim tudo que existia no mundo de então foi identificado. Aí inventaram  a Torre de Babel, separando tudo e todos, e um simples prato pode ter 500 denominações diferentes, dependendo de onde você está – gericht, plato, taom, plat, saxan, jídlo, sajian, yemek, pladon, tallerken, jelo… São palavras diferentes querendo dizer a  mesma coisa, embora existam palavras iguais querendo dizer coisas diferentes.
 
Pesco na Internet algumas palavras cujo sentido só existe em um idioma, representando um conceito de vida específico de um determinado país.  Os noruegueses criaram uma palavra nova para a vida ao ar livre – Friluftsliv, indicando uma ideia nada nova – a vida ao ar livre é boa para o corpo, a mente e o espírito. Isso inclui dormir, passar o dia, dançar ou brincar ao relento, sair por aí fotografando ou meditando, ou apenas apreciando as árvores ou os pássaros.
 
As crianças do meu tempo eram mais felizes porque, sem televisão, videogames e computadores, brincavam ao ar livre sempre que possível? A terapia de passar algum tempo ao ar livre não exige equipamento sofisticado, bom clima ou muitos gastos, e deve ser praticada pelo menos uma vez por semana. Os japoneses cunharam a expressão shinrin-yoku, ou banho de floresta, que é a mesma coisa  com uma variação – passar alguns momentos em áreas densamente verdes é medicina preventiva eficiente e barata.
 
Os benefícios estão cientificamente comprovados –  como o banho de sol, com o banho de árvores nos beneficiamos das substâncias oleoquímicas que protegem as plantas.  Nos  humanos  elas baixam a pressão arterial, eliminam o estresse e estimulam o crescimento das células anti-cancerígenas. Na Dinamarca tem o hygge, um conceito tão arraigado na população que põe o país no topo da  lista dos mais felizes do mundo.  A tradução de hygge pode ser aconchego, ou o nosso bem conhecido calor humano, mas num nível mental e não apenas físico. 
 
O congraçamento em torno de um churrasco no domingo; as festas de aniversário; o barzinho depois do expediente; a família toda amontoada no sofá assistindo novela; cumprimentar um vizinho e perguntar pela saúde… Nas casas onde ando no Brasil, as pessoas esticam o tempo depois de uma refeição, papeando as coisas da vida, contando causos, lembrando vivências antigas. Nas  casas modernas, com muitas televisões e muitas engenhocas eletrônicas, estamos perdendo essa terapia.
 
Na Alemanha tem o gemurlichkeit, palavra longa com o mesmo conceito do hygge. Ou melhor definindo, a solidão é inimiga mortal da saúde física e mental. Ou melhor ainda, não é com dinheiro que se mede a felicidade, mas pelo número de amigos e pelo tempo gasto na convivência familiar e social. Ter pra quem ligar compartilhando uma boa notícia, ou achar  um ombro amigo para os inevitáveis finais infelizes faz toda a diferença.
 
Da Índia vem o jugaad, que pode ser comparado ao nosso famoso ‘jeitinho’ –  consertar ou ajustar alguma coisa com criatividade ou ingenuidade. Aptidão típica dos  países pobres,  não a vemos nos lugares onde tudo se desperdiça.  A ideia, no entanto, vai além da necessidade, e o que se valoriza é a criatividade. Minha casa está cheia de tapetes de retalhos enviados por amigos do Brasil, comprovando nosso jugaad, nosso gemurlichkeit e nosso hygge. E não descuide do shinrin-yoku e do friluftsliv nesse fim de semana, mesmo que seja numa caminhada no Parque Moscoso.

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