O presidenciável Flávio Rocha, do PRB, braço político do empresário Edir Macedo, dono da TV Record e da Igreja Universal do Reino de Deus, e a recepção a ele dispensada por jovens lideranças políticas do Estado dão a medida exata do que é chamado de novo no atual cenário político.
Tanto na esfera nacional como nas articulações locais, os movimentos de parte da elite empresarial envolvem figuras de destaque no cenário político, como o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e o deputado e apresentador de TV, Amaro Neto, entre outros.
São lideranças jovens, mas que despontam atreladas a velhas fórmulas, conduzidas debaixo de conceitos ultrapassados sob o ponto de vista de transformações sociais mais amplas.
Mesmo sem chances de deslanchar a candidatura, Flávio Rocha empolga setores empresariais movidos por mudanças que mantenham privilégios seculares ou produzam novas formas de ampliar seus interesses pessoais.
Flávio Rocha é diretor licenciado da rede de lojas Riachuelo, dono de uma fortuna estimada de R$ 1,3 bilhão, e se apresenta como candidato de centro, mas, na realidade, constrói uma arquitetura dissociada das comunidades periféricas.
Seu projeto valoriza o conceito do Estado mínimo e a meritocracia, o que exclui, de cara, as camadas historicamente mais desassistidas da população. Não é à toa que ele é defensor do liberalismo econômico, que reduz o Estado a mero coadjuvante no processo de gestão pública.
Esse conceito formaliza prática política na qual o corporativismo empresarial direciona as ações do Estado, como ocorre há décadas no Brasil e tem, no Espírito Santo, um claro exemplo.
Com exceção dos deputados Erick Musso e Amaro Neto, a receptividade dada à visita de Flávio Rocha a Vitória não pode ser chamada de significativa, o que já representa um certo conforto.
Isso não quer dizer, porém, que esse novo-velho não esteja em curso por aqui, pois o cenário político é o mesmo de décadas e o quadro eleitoral desenhado inclui poucos agentes de mudanças.
Com o governador Paulo Hartung (MDB), o ex-governador Renato Casagrande (PSB) e a senadora Rosa de Freitas (Podemos) na condição de candidatos ao governo e, em consequência, como condutores do processo eleitoral, surge um questionamento inevitável: que novo é esse?
Isso porque, mesmo com jovens atores, o cenário é pintado com cores desbotadas, se vistas com a perspectiva de avanço social e melhoria da qualidade de vida para um número cada vez mais crescente de pessoas, bem acima de interesses empresariais.