Quinta, 18 Abril 2024

Queda para cima

 

 

Na semana passada aconteceu algo extraordinário no Espírito Santo. Havia muito tempo, ninguém sabe precisar quanto, que o Estado não atravessava um período de quatro dias (17 a 20 de setembro) sem que uma única pessoa fosse assassinada na Grande Vitória. 
 
Parte da mídia tratou a ausência de homicídios como uma tendência de queda. Queriam saber das autoridades se a trégua poderia ser creditada a um erro nos computadores da Secretaria de Segurança ou se de fato a GV não registrava um crime letal havia quase 96 horas. 
 
As autoridades se apressaram em dizer que o recuo era fruto dos investimentos do governo do Estado na área de segurança e tratou as estatísticas como uma tendência de queda consolidada. 
 
Até dá para entender a ansiedade do governo em querer derrubar as taxas de homicídios e tirar o Espírito Santo da incômoda posição de segundo Estado mais violento do País. Mas, infelizmente, não podemos tratar um fato isolado como uma tendência de queda.
 
Estados como São Paulo e Rio de Janeiro demoraram anos e anos para começar a colher os resultados que confirmaram a desaceleração das taxas de homicídios como uma tendência. Nesses dois estados foram investidos bilhões de reais, montados verdadeiros exércitos urbanos e implantados diversos programas sociais para alcançar números aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que tolera menos de 10 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes ( temos cerca de 50/ 100 mil). Acima de 10/100 mil, a OMS considera violência epidêmica. 
 
São Paulo já conseguiu atingir a meta estabelecida pela OMS, já o Rio vem diminuindo ano a ano suas taxas de letalidade, mas ainda reconhece que tem muito a galgar para atingir o invejável patamar conquistado pelos paulistas. Vai demorar mais alguns anos para o Rio poder dizer que está livre dessa letal epidemia.
 
A realidade desses dois estados é completamente diferente da do Espírito Santo. Ambos estão há mais de uma década tratando a violência como prioridade número um. É só olhar para os investimentos. O governo paulista multiplicou o orçamento da Secretaria de Segurança Pública em mais de seis vezes: de R$ 2,4 bilhões, em 1997, para os R$ 11,9 bilhões, em 2012.
 
No Espírito Santo, o ex-governador Paulo Hartung praticamente empurrou com a barriga o problema da violência. A Segurança Pública ficou em situação de abandono durante os dois mandatos do governo Hartung (2003 a 2010). Para piorar as coisas, o ex-secretário de Segurança Rodney Miranda fez uma gestão pífia à frente da pasta. Sequer conseguiu reduzir em 10% as taxas de homicídios, uma das suas metas iniciais. Tampouco implantou um único programa de resultado capaz de, pelo menos, minimizar os números da violência. 
 
Os investimentos, ainda em níveis distantes do ideal, é verdade, só começaram a ser retomados no atual governo. É por isso que ainda é cedo para falar em tendência de queda.  
 
O que tivemos na semana passada foi um “hiato de paz”. Infelizmente um fenômeno isolado que durou menos de 100 horas. Tanto é que o fim de semana seguinte à calmaria foi sangrento. Entre sexta-feira (21) e domingo (23) foram registrados 14 homicídios na Grande Vitória e 18 em todo o Estado. Já no fim de semana anterior, entre 14 e 16 de setembro, foram 25 homicídios no Estado.
 
A frieza dos números é inconteste. Ainda é longo o percurso que teremos que caminhar antes de afirmar que as taxas de homicídios no Estado realmente estão seguindo a desejada curva descendente. 
 
Primeiro o Estado terá que tratar o combate à violência como prioridade e, de fato, o governador terá que levar o problema para dentro do seu gabinete para não perdê-lo de vista. Antes disso, qualquer tentativa de interpretar na marra a leitura da violência é velar a realidade. Por enquanto, queda, só se for para cima. 

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