Sexta, 03 Mai 2024

Quem vai investigar Pontes?

 

Desde a deflagração da Operação Derrama, o procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, vem disparando críticas públicas contra os delegados do Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc). 
 
A operação histórica, que colocou na cadeia mais de 30 pessoas (entre elas, dez ex-prefeitos) e ainda trouxe elementos para o indiciamento de três prefeitos e dois deputados – um deles o presidente da Assembleia, Theodorico Ferraço -, foi classificada pelo chefe do Ministério Público Estadual (MPE) como um “erro feio” da polícia. 
 
Pontes, no parecer apresentado na última sexta-feira (1), pediu a revogação das prisões de todos os suspeitos e o arquivamento do inquérito relacionados aos acusados que gozam de prerrogativa de foro. Depois de muito desgaste, que resultou em uma crise institucional entre o MPE de um lado e TJES e a Polícia Civil do outro, o parecer de Pontes, pelo “engavetamento” do inquérito, tirou o foco do crime de corrupção investigado e jogou nos agentes da investigação. 
 
Desde o início, a estratégia do chefe do MPE foi criar polêmicas e deixar a matéria investigada de lado. A crise que começou com os delegados do Nuroc rapidamente se propagou para o Tribunal de Justiça. Pontes passou a medir forças com o relator do inquérito, o desembargador Ronaldo Gonçalves Sousa. 
 
A queda de braço envolvendo Pontes e Ronaldo chegou ao clímax com o episódio da remessa de provas documentais que estavam em poder do Tribunal. Com a relação já azedada pelas constantes trocas de farpas, o desembargador, alegando motivos de segurança do material, determinou que os membros do MPE analisassem os documentos nas dependências do Tribunal.
 
Pontes se indignou. Acionou todas as instituições possíveis e imagináveis que tinham alguma relação com o MPE e “encomendou” notas de repúdio à imposição do relator. Atendendo ao apelo corporativista do órgão ministerial capixaba, choveram notas de apoio a Pontes, que foram publicadas imediatamente nos jornais. 
 
Eder Pontes queria transmitir à opinião pública que estava sendo vítima de uma ardilosa conspiração formada por representantes do Tribunal de Justiça e delegados da Polícia Civil. Pessoas que estavam dispostas a tudo para perseguir os suspeitos da Derrama e ingerir no trabalho do MPE, única instituição equilibrada e juridicamente preparada para conter os excessos da polícia e do TJES. 
 
A estratégia de Eder Pontes sempre foi desviar o foco da matéria. Ao invés de analisar o conteúdo das investigações, o procurador-geral se centrou na conduta dos delegados. Por dedução lógica, ele questiona: “Se as linhas de apuração adotadas foram ilegais, logo, as provas apuradas também são ilegais”. 
 
Reparem, caros leitores, que o âmago das acusações foi ignorado. Afinal, deputados, prefeitos e ex-prefeitos estavam ou não envolvidos no esquema desvelado pela Derrama? Os delegados “erraram tão feio” assim que todas as provas levantadas não têm valor? Não há nada de crível no trabalho de investigação da polícia? O relator do inquérito no TJES, que após analisar os autos prorrogou a prisão dos acusados, também fazia parte de um conluio para perseguir políticos inocentes e até prejudicar a eleição de um deles que disputava a presidência da Assembleia? O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, que negaram todos os pedidos de habeas corpus aos acusados, também faziam parte desse engenhoso complô? A demissão de Henrique Herkenhoff da Segurança também estaria relacionada à Derrama? Estaria o ex-secretário no caminho de Pontes tentando assegurar o trabalho de investigação dos delegados? 
 
São diversas as perguntas que continuarão sem respostas. Mesmo porque, não há interesse em respondê-las. Se o objetivo era criar uma grande “cortina de fumaça”, Pontes conseguiu. Nada disso interessa mais. 
 
Depois de desqualificar o trabalho de investigação dos delegados, Pontes quer agora puni-los. De investigadores, os delegados passam agora à condição de investigados. A punição servirá de exemplo para que nenhum outro delegado ouse comandar investigações sem a anuência do MPE, principalmente se os investigados tiverem direito ao “plano de blindagem” da instituição. 
 
Casagrande, perdido em meio à fumaça lançada por Pontes, já avisou que se houve ilegalidade no trabalho dos delegados, como denunciou o procurador-geral em seu parecer, cabe à Corregedoria apurar. Percebam a gravidade dessa declaração. A prioridade do próprio governador agora é punir os delegados. 
 
E quanto aos acusados de envolvimento no tal esquema de cobrança ilegal de tributos, a tal Operação Derrama que levou mais de 30 pessoas para a cadeia?. Alguém ainda se lembra dela? Parece que Pontes conseguiu engavetar mais uma. 
 
Fica a pergunta. Quem vai investigar Pontes? 

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