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Razão e paixão

Como frear uma paixão? É bom, preciso, possível?

Como frear uma paixão? É bom, preciso, possível? Esta pergunta circula a Filosofia com diversas vertentes reflexivas.

Já a partir de Platão, no diálogo Fedro, na busca socrática pelo entendimento da alma humana, com a ideia de uma natureza intermediária entre o homem e Deus, destinada ao conhecimento, ela sofre as consequências do corpo que a fazem errar e se distanciar de seu destino natural.

Para esclarecer melhor é criado o Mito do Cocheiro, ou da Parelha Alada, em que o homem é representado por uma carruagem com um cocheiro e dois cavalos, sendo um de boa raça e outro rebelde. O cocheiro representa a razão domando o cavalo rebelde (paixões) e o dócil resiste aos apetites do outro, sendo o objetivo final chegar ao “paraíso” da tríade: razão = virtude = felicidade.
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Também no Mito da Caverna fica claro que as sombras, ou o mundo sensível, representam as paixões, é falso e acidental. Sócrates inseriu o que mais tarde Nietzsche chamou de “doença” em Crepúsculo dos Ídolos, uma vez que para Sócrates viver e alimentar a vida com prazer é desviar da razão; Nietzsche pergunta: não será isso uma doença? Ser contra a vida? Contra o prazer de viver? A condenação do corpo e seus apetites? O eliminar Dionísio, para o reino exclusivo de Apolo?

Mais para frente, no Séc. XVIII, David Hume bate o martelo: a razão é impotente frente à paixão, que só pode ser combatida por outra paixão e nunca pela razão.

Razão = Logos, pensar, faculdade de raciocinar; fundamento, causa, princípio, motivo, argumento, exercício da razão, juízo ou julgamento, bom senso, dentre outros…

Em Marilena Chauí temos: “Ser racional é ter a capacidade de pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros”.
Paixão = Pathos, emoção; perturbação do ânimo causada por uma ação externa; passividade humana ou das coisas; doença (donde: patológico, patologia); emoção forte causada por uma impressão externa (donde: patético); passividade física e moral; sofrimento, também dentre outros…

“o cocheiro é a alma racional, o corcel de boa raça, que força a subida, é a parte honrosa ou valorosa da alma, o de má raça, que puxa o carro para baixo, a parte concupiscente que, pelo desejo de gozar um prazer imediato e irrefletido, troca o amor pela verdade pelo amor às aparências”. (Chauí, 2011, p. 299).

O que penso é que com toda essa demonização da paixão, cada vez mais o homem é obrigado a se negar enquanto animal, com seus instintos que o fazem ser o que ele é, para atender a um modelo moral idealizado em teorias construídas num sonho de modelo necessário para a “boa convivência social”, que dura o tempo suficiente ao mergulho na paixão que o arrebata, domina e expõe, para além de todas as convenções, causando estranheza e horror, bem como a total condenação e rebaixamento de sua condição racional.

Mas ficará sempre a pergunta nietzschiana: Não será isso uma doença? Se não conseguimos conter nossas paixões com o uso da razão, não serão elas necessárias à plena realização do ser? Ou é melhor mantermos as máscaras de bons cidadãos diante das luzes e a possibilidade de realização pelas sombras do mundo?

Afinal, recordando Parmênedes: O SER É!

Everaldo Barreto é professor de Filosofia

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