Quem leu as declarações do secretário de Segurança André Garcia no jornal A Tribuna desta terça-feira (5), deve ter ficado um bocado aliviado com a notícia de que os homicídios no Estado “despencaram” de 41,1 para 27,5/100 por 100 mil habitantes. A manchete confirma: “Assassinatos caem no Estado”.
Garcia atribuiu a queda ao trabalho que vem sendo feito pela Secretaria de Segurança de 2010 para cá. Os índices seriam dignos de comemoração se os dados analisados não correspondessem apenas a um recorte do total de Crimes Violentos Letais Intencionais, que agrega os registros de homicídios dolosos, latrocínios, lesão corporal seguida de morte.
Os números analisados por Garcia, que fingiu de rogado, consideram apenas os homicídios dolosos. Segundo o anuário, de fato, nesse recorte houve queda entre os anos de 2011 e 2012.
Apesar da queda, quando se fala em homicídios devemos considerar todos os crimes que resultam em mortes. É apenas a partir da resultante desse cruzamento de dados que poderemos mensurar a taxa total de homicídios em uma determinada região.
Quando são contabilizadas todas as modalidades de crimes convertidos em mortes, os números são completamente diversos dos analisados pelo secretário, que aproveitou a onda confusa dos números para surfar na informação positiva.
De acordo com dados da própria Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), o buraco é bem mais embaixo. Em 2012, ocorreram 1.661 homicídios no Estado. Este número equivale a 47,25 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Considerando que a taxa de 2011 ficou em 47,4 por 100 mil, a redução real fica em torno de 0,3%. Portanto, uma queda ínfima. Muito distante dos 13,6 pontos “achados” pelo secretário no comparativo de homicídios dolosos entre 2011 e 2012.
É preciso lembrar ao secretário André Garcia que a população não fica diferenciando as modalidades de crime quando está nas ruas à mercê da violência. Homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, latrocínio (roubo seguido de morte) e confronto com a polícia tiram a vida do cidadão do mesmo jeito.
Quando o cidadão está frente a frente com a violência, a modalidade do crime é o que menos importa neste momento, tampouco como os órgãos de segurança vão depois tipificar aquele crime. Isso se a vítima sobreviver para contar a história.
O que o cidadão quer de volta é a sensação de segurança. E o secretário sabe muito bem que, para um Estado que está há mais de uma década entre os mais violentos do País, essa é uma sensação que não se devolve à população da noite para o dia. Não existe mágica. Melhor que qualquer estatística é a percepção da população, que vai medir se a violência está de fato em desaceleração.
É prudente que o secretário não se distancie da realidade e continue trabalhando duro para devolver ao cidadão um pouco de tranquilidade.