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A estratégia de comunicação do governador Paulo Hartung (PMDB), neste terceiro mandato, está muito próxima da perfeição. É incrível a capacidade da assessoria do governo em transformar ameaças em oportunidades. 
 
Foi assim, por exemplo, com a crise econômica que tem arranhado fundo a imagem de boa parte dos governadores. Com Hartung, a história tem sido diferente. O governador capixaba largou na frente e soube aproveitar, como ninguém, o “lado bom da crise”. Após jogar fora a chave do cofre, Hartung tirou o foco da pasmaceira que é sua gestão em termos de investimentos em projetos, sobretudo, sociais, e transformou a política de austeridade em resultado concreto de governo. 
 
O “milagre” de transformar água em vinho não parou na economia. Quem poderia imaginar que Hartung transformaria uma das maiores máculas das suas gestões anteriores em notícia positiva? Mas transformou. O governador que ganhou a alcunha de “senhor das masmorras num passado recente— com direito a chacinas, torturas, decapitações e outras violações —, está se tornando referência em gestão de sistema prisional. É quem está validando esse modelo não é a imprensa capixaba, que sempre foi corporativista, mas a grande imprensa nacional.
 
Nesse fim de semana voltou ao noticiário local o escândalo dos repelentes superfaturados. Na edição dominical (22) de A Gazeta, uma extensa reportagem rememorou o esquema que veio à tona no final de 2015, trazendo como fato novo as escutas telefônicas feitas pela polícia. O esquema criminoso teria sido montado pelo então subsecretário da Saúde, José Hermínio, com empresas e outros servidores da pasta. Segundo as investigações, somente com a compra de repelentes Hermínio teria desviado R$ 1 milhão da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). 
 
O episódio, que foi o primeiro grande escândalo de corrupção no terceiro mandato de Hartung, tem sido tratado de forma “cirúrgica” pela imprensa. Outra façanha que pode ser creditada à assessoria do governador. 
 
Até agora o escândalo envolvendo um subsecretário, que é um cargo de confiança do governo e do secretário, não levantou suspeição sobre Ricardo de Oliveira e tampouco fez menção de questionar o governador. É bom esclarecer que não há indícios de que Oliveira e Hartung tenham qualquer envolvimento com o caso, mas ambos devem explicações à sociedade. Afinal de contas, o cargo de subsecretário, que tem autonomia para aplicar um golpe de R$ 1 milhão, não pode ser entregue a qualquer um. Em última análise, a nomeação é corresponsabilidade dos dois. Governo e secretário deveriam ordenar uma investigação minuciosa em toda a pasta para verificar se há outros indícios de corrupção. 
 
Mas não será surpresa se o escândalo de desvio de dinheiro público da Saúde virar exemplo de combate à corrupção. Um assunto que poderia ser interpretado como ameaça iminente à imagem do governo pode virar, mais uma vez, oportunidade nas mãos de quem sabe conduzir estrategicamente a comunicação. Manchete possível: “Espírito Santo é exemplo de combate à corrupção”. 

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