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Retalho colorido

Era reprise de um programa apresentado no ano passado, mas o conteúdo veio com sabor de novidade no domingo de carnaval 11 de fevereiro de 2018.
 
– Como foi que nasceu a batida da bossa nova? ­– perguntou Rolando Boldrin, mestre de cerimônias do programa Sr. Brasil.

 

– É que a gente não sabia tocar samba — respondeu Menescal, explicando, com extrema sinceridade, que entre seus amigos cada tocador de violão tinha uma batida diferente nas cordas do instrumento.
 
Havia a batida do Baden Powell. A do Carlinhos Lira. Do Sergio Castro Neves. Até o veterano Dorival Caymmi tinha um modo peculiar de tocar. Aí chegou o João Gilberto com seu dindindon…
 
– O pessoal do jazz nos Estados Unidos se ligou na nova batida do samba… – disse Menescal.
 
– E como nasceu o nome Bossa Nova?
 
– A Silvinha Telles, que era cantora profissional, nos convidou pra dar uma canja num show dela na Hebraica, do Rio. Juntamos a turma em dois taxis e fomos pra lá. Subimos por uma escadaria em curva onde tinha um cartaz escrito assim:
 
“Hoje Silvinha Telles com o grupo Bossa Nova”.
 
Continua Menescal:
 
– Não conhecíamos ninguém ali e achamos que o tal grupo Bossa Nova pudesse ficar chateado com a intromissão da gente. Então perguntamos ao diretor cultural da Hebraica qual era a situação. E ele: “Ah, não, botei esse nome aí porque não sabia nada de vocês.” 
 
Ou, seja, o nome da bossa nova foi inventado sem querer.
 
Na conversa com Boldrin, Menescal revelou que a turma dele, no Rio, queria fazer um tipo de música livre do tom pesado do samba-canção, aquelas músicas com letras sobre amores impossíveis, dor-de-cotovelo, paixões desesperadas.
 
– A gente tinha 18 anos, queríamos viver a vida numa boa -, explicou o autor do Barquinho e de outras 500 canções. Prova disso é que o Barquinho, letra de Ronaldo Boscoli e música de Menescal, foi composto após um passeio de barco (em Cabo Frio) que teve pane de motor e ficou à deriva. O pessoal foi salvo por um barco baiano que passava ao largo de Cabo Frio, mas os futuros músicos fizeram uma canção alegre, sem drama, falando de “dia de sol, festa de luz…no macio azul do mar”…  
 
Esse astral tipicamente carioca, desligado dos problemas cotidianos, foi a marca de uma geração de artistas comprometidos com a alegria de viver, após o suicídio do presidente Vargas em agosto de 1954. O baixo astral foi embora com a eleição de JK em fins de 1955. Até a renúncia de Janio, o Brasil viveu uma festa com a vitória do futebol na Copa da Suécia, a criação do Cinema Novo, a construção de Brasília.    
 
A bossa nova foi construída em apartamentos do Rio de Janeiro, que logo deixaria de ser capital federal embora os cariocas continuassem achando que nunca a Cidade Maravilhosa deixaria de ser o centro do Brasil…
 
Num desses apartamentos cariocas morava a família da capixaba Nara Leão, que se tornou a vozinha mais característica da bossa nova, até que foram chegando ao palco outras vozes: Bethania, Gal etc.
 
Ouvindo depoimentos como esse de Roberto Menescal, que carrega em si o despojamento característico dos capixabas, a gente se dá conta de que o pequeno-grande Espírito Santo também faz parte da colcha de retalhos que constitui a maior riqueza brasileira – a MPB.
 
LEMBRETE DE OCASIÃO

 

E nem falamos de Sergio Sampaio e Roberto Carlos, dois fenômenos de Cachoeiro do Itapemirim, 120 Km ao sul da ilha de Vitória.   

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