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Risco ignorado

Recente relatório assinado por cinco engenheiros que integram a Comissão de Infraestrutura do Grupo de Trabalho de Infraestrutura e Mobilidade  Urbana do Conselho Regional de Engenharia (Crea-ES) pôs em destaque a precária situação em que se encontra a Estação Rodoviária de Vitória e, sobretudo, os riscos que correm seus usuários. 
 
Inaugurada 38 anos atrás, era – junto com as Estações Ferroviárias Pedro Nolasco e Leopoldina, em Vila Velha, além do porto e aeroporto da Capital –  uma das portas de entrada para uma região de população numericamente não muito expressiva. Perto de 600 mil pessoas viviam então nos municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana, que não só pelos seus vínculos econômicos, mas, principalmente, pela proximidade geográfica, já antecipavam à época a configuração urbana básica do que viria a ser a Região Metropolitana de Vitória. 
 
Seu projeto de construção, ocupando área de aproximadamente 2.000 metros quadrados, já era também, de certo modo, datado desde suas origens – e o tempo encarregou-se de comprová-lo rapidamente. De fato, foi concebida para atender as demandas da capital, mas, obviamente, teve que receber considerável parcela de passageiros que a usavam como ponto de acesso às cidades vizinhas.
 
Considerando-se a amplitude da atual área metropolitana, porém, que inclui não cinco mas sete municípios com um total de quase dois milhões de habitantes, a Estação Rodoviária poderia ser considerada há muito tempo no mínimo antiquada e desconfortável. Isso, com certeza, é o menor dos problemas diante da espantosa descoberta feita há poucos dias, por engenheiros do Crea-Es. Eles viajavam pela baía de Vitória  rumo à Segunda Ponte, onde fariam uma vistoria técnica, quando se depararam com a degradação da base de sustentação da Estação Rodoviária, no nível do mar.
 
O detalhamento técnico do problema, posteriormente descrito num relatório que enviaram à Assembleia Legislativa, revelou extrema preocupação com a segurança de suas instalações.  “Foram identificados desplacamentos do cobrimento de concreto em diversos pontos, a ponto de ultrapassar as armaduras que encontram-se em adiantado estado de corrosão. Parte destas armaduras encontram-se com perda total de seção, situação característica de degeneração e comprometimento do desempenho dos elementos estruturais”, enfatizou o relatório. 
 
Em outras palavras, a Estação Rodoviária – por onde transitam hoje pouco mais de cinco mil usuários/dia (quase 2 milhões/ano) –  corre o risco de desabar em face da “ausência de um sistema de manutenção periódica, seja preventiva ou corretiva”, como constataram os engenheiros, alertando enfaticamente “para a imediata atenção que merece ser dada a esta estrutura no que tange à recuperação”. 
 
Como se sabe, o governo do Estado, que a construiu ao tempo de Élcio Álvares, é juridicamente o responsável por sua administração, mas essa tarefa vinha sendo exercida por empresa terceirizada que se preocupou apenas com a manutenção externa (ressalte-se que até isso é questionável, levando-se em conta a aparência do imóvel). 
 
De qualquer modo, o governo, ao conceder a exploração de um serviço a um ente privado, não está isento do dever e da obrigatoriedade de fiscalizar e zelar pelo cumprimento fiel do contrato, sobretudo quando está em jogo a vida de usuários.
 
Falhou Paulo Hartung, mais uma vez. Nos últimos 16 anos, o governador esteve três vezes no comando do Estado, totalizando quase 12 anos de governo, e uma tragédia que se anunciava dolorosa, não fosse a investigação preventiva dos atentos engenheiros, poderia ter acontecido debaixo do seu nariz, por pura apatia em relação aos seus deveres como gestor público. 
 
O deputado estadual Marcelo Santos (PMDB), presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia, onde o relatório foi apresentado, já pediu, inclusive, medidas urgentes em ofício direcionado à secretária de Estado de Gestão e Recursos Humanos, Dayse Maria Lemos.
 
Mas, passados oito dias desde que o assunto veio a público, não se sabe ainda quando e quais serão as providências tomadas para sanar o problema, porque o governo Hartung simplesmente não emitiu nenhum sinal. Um risco desse, não pode mais ser ignorado.

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