Luciano Rezende está decidido a desaculturar Vitória. Nas últimas semanas, o prefeito iniciou uma verdadeira cruzada contra tradicionais manifestações culturais da cidade. Primeiro, declarou guerra ao tradicional circuito do samba no Centro; em seguida, jogou um balde de água fria no Som de fogueira, na Rua da Lama, em Jardim da Penha; e, por fim, prometeu calar o Projeto Chorinho na Praça, em Jardim Camburi.
À comunidade cultura de Vitória só restou evocar Dorival Caymmi para classificar as medidas disparatadas do prefeito. “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é…”
Decididamente, Luciano não está se mostrando “um bom sujeito” quando o assunto é cultura. Na campanha eleitoral para amealhar os votos dos eleitores, ainda na disputa pela primeiro mandato, o então candidato prometeu revitalizar o Centro. Mas ao sufocar o tradicional reduto do samba, cadenciado pelo circuito de bares, sobretudo da Rua Sete, Luciano mata a vida no Centro.
A prefeitura firmou um Termo de Compromisso Ambiental (TCA) com o Ministério Público Estadual, deixando a comunidade cultural de fora, para impor um autêntico toque de recolher aos habitués do coração da cidade. A partir das 23h, mesas e cadeiras dos bares e restaurantes são “varridas” das ruas e calçadas com o intuito de silenciar o Centro.
Na famosa Rua da Lama, em Jardim da Penha, a prefeitura ameaçou fechar o bar Birita Casa de cocktail, que empreende, há dois anos, o Som de Fogueira. O projeto artístico reúne bandas e cantores, a maioria independentes, em apresentações abertas ao público. Tudo na rua. O empresário que promove o projeto há dois anos, Diogo Cypriano, resumiu a política cultural do prefeito. “Minha tristeza é que essa gestão da Prefeitura não auxilia ou dialoga com quem está assumindo alguma responsabilidade na cidade, como eu assumi em promover cultura de forma independente”.
O bairro mais populoso da ilha também não escapou da política de desaculturação do prefeito, que declarou guerra ao Projeto Chorinho na Praça, em Jardim Camburi. Os amantes do chorinho se reúnem, sempre aos domingos, das 9h30 às 13h30, na Praça Renato Loyola.
O sucesso do chorinho tem sido tão grande, que deu vida a uma feira comunitária, funcionando em sintonia com o projeto. Agora é possível comer e beber bem, espiar os artesanatos, e ainda ouvir uma boa música. Mas o chorinho também não agrada Luciano. Acuados pelo prefeito, os organizadores do projeto lançaram um abaixo-assinado na internet para tentar salvar o chorinho em Camburi.
O prefeito precisa deixar a arrogância de lado e dialogar com os movimentos culturais de Vitória. Ninguém discorda que a administração municipal tem o dever de regulamentar os eventos culturais que acontecem na cidade. Mas regulamentar não é exterminar. Luciano deveria, primeiramente, agradecer à comunidade cultural que mantém a cidade viva, alegre, pulsante.
Nos três casos, a população de Vitória está simplesmente exercendo seu direito de cidadania ao se apropriar dos espaços públicos para produzir cultura e lazer.
O prefeito não está sabendo lidar com o valioso capital cultural que estão sendo oferecidos pela comunidade. Ativos verdadeiramente capazes de manter a cidade viva.