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‘Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros’

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ouviu 3.810 pessoas para entender a percepção do brasileiro sobre a violência contra mulher. O estudo divulgado nesta quinta-feira (27) apresentou dados assustadores. “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”; “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”;  “Tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra cama”; “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. O estudo mostrou que boa parte dos brasileiros é condescendente com o teor das frases. 
 
O mais preocupante é que as mulheres representam 66,5% do universo entrevistado. Por exemplo, diante da questão: “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, 42,7% disseram que sim; outros 22,4% concordaram parcialmente com a “punição”. Enquanto apenas 24% discordaram totalmente.
 
Se somarmos as duas respostas (42,7% e 22,4%), chegaremos à conclusão que 65% dos entrevistados são favoráveis que a mulher que usa roupas mais “provocantes” merece ser atacada. 
 
A questão seguinte confirma a visão punitiva da sociedade em relação às mulheres. “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. Mais de 35% disseram concordar totalmente com a afirmação; outros 23% concordaram parcialmente. Somados, os percentuais também passam dos 50%. 
 
As respostas apontam que a mulher que “provoca” merece ser punida com o estupro. O agressor passa a ser “vítima” da “sedução” da mulher. Dentro de uma lógica mais ou menos assim: “o agressor só ataca a mulher porque ela provoca seus instintos mais selvagens. Sem controle, ele acaba perdendo a cabeça e partindo pra cima da mulher para satisfazer seus desejos”. 
 
A pesquisa do Ipea mostra também o quanto a percepção da sociedade é contraditória quando o assunto é a violência contra mulher. O mesmo entrevistado que defende o estupro como punição para as mulheres “provocadoras”, comunga da ideia que o “homem que bate na esposa tem de ir para a cadeia”. Pelo menos essa foi a resposta 78% dos entrevistados.
 
Mais de 76% também desaprovam que o homem xingue ou mesmo grite com sua esposa; 61,7% responderam que quando há violência no relacionamento, os casais devem se separar. Quase 70% dos entrevistados também discordam totalmente que a mulher que apanha em casa deve se calar para não prejudicar os filhos. 
 
As contradições não param por aí. A pesquisa revela, de outro lado, que mais de 80% dos entrevistados acreditam que “o que acontece com o casal em casa não interessa aos outros”. Dentro da lógica que em “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
 
Os dados deveriam deixar atordoados os governantes, a classe política, as autoridades e a sociedade em geral, sobretudo no Espírito Santo, que ostenta a vergonhosa marca de ser o Estado onde mais se mata mulheres no País. É preciso sim meter muito mais que a colher para reverter em definitivo essa lógica perversa. 
 

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