Quinta, 28 Março 2024

Secou a água do banho-maria

 

Os relatórios de auditoria do Tribunal de Contas do Estado, da Secretaria de Controle e Transparência (Secont) e o inquérito da Operação Pixote fornecem elementos de sobra para que o Ministério Público Estadual e a Justiça montem o quebra-cabeça da corrupção instalada no Instituto de Atendimento Socioeducativo do Estado (Iases), autarquia vinculada à Secretaria de Justiça (Sejus).
 
Neste mês, completa um ano que Século Diário publicou as primeiras reportagens que apontavam fortes indícios de corrupção nos contratos firmados entre a Associação Capixaba de Desenvolvimento e Inclusão Social (Acadis) e empresas que prestavam serviços ou forneciam produtos às unidades administradas pela entidade. 
 
O esquema milionários era financiado com dinheiro público do Estado, repassado por meio de convênio de gestão entre o Iases e a entidade criada e dirigida pelo colombiano Gerardo Mondragón.
 
Se ainda havia dúvida quanto ao envolvimento de algumas pessoas que foram poupadas da lista dos 17 indiciados da Pixote, em agosto passado, os relatórios do TCE e da Secont e, sobretudo, o inquérito do delegado Rodolfo Laterza, que chefiou a operação, transformam as suspeitas em evidências.
 
Na reportagem publicada nesta terça (23), que nada mais é do que o detalhamento das matérias publicadas há um ano, os indiciados da Pixote, que aceitaram colaborar com as investigações, fornecem com riqueza de detalhes o esquema de corrupção engendrado por Silvana Gallina e Mondragón. 
 
De acordo com os depoimentos, o deputado estadual Josias Da Vitória (PDT) e o juiz Alexandre Farina terão muito que explicar. Ambos teriam agido como lobistas para promover politicamente o ex-frei colombiano, que não passava de um anônimo até Da Vitória e Farina elevá-lo à condição de "guru" do sistema socioeducativo. 
 
Como nada vem de graça, a retribuição do colombiano foi transformada em contratos milionários que favoreceriam empresas ligadas a familiares do juiz e do deputado. 
 
Agora que boa parte do quebra-cabeça começa a ganhar forma, graças às investigações de Laterza e equipe, as autoridades não têm mais como deixar de fora da lista dos suspeitos o juiz e o deputado.
 
Já há elementos suficientes também para a Corregedoria da Assembleia Legislativa deixar o corporativismo de lado e tratar com o rigor que o escândalo exige o parlamentar Josias Da Vitória, que precisa dar explicações plausíveis sobre seu envolvimento no esquema. 
 
Porque no depoimento espontâneo que deu ao delegado Laterza, o deputado negou inadvertidamente qualquer vínculo pessoal ou comercial com Mandragón e companhia. E não é bem isso que as evidências mostram. 
 
O juiz Farina foi ainda mais longe. Não se deu nem ao trabalho de dar qualquer explicação sobre sua participação no esquema. Simplesmente ignorou o convite do Tribunal para se explicar.
 
Além das instituições que são obrigadas por lei a tomar uma ação no escândalo Iases-Acadis, a sociedade civil organizada e a população em geral também podem e devem pressionar. Afinal, a água que servia para manter o caso no banho-maria  secou já faz um bom tempo. 

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