A reportagem de capa do jornal A Gazeta desta sexta-feira (4) publicou uma longa reportagem sobre o prefeito de Aracruz, Marcelo Coelho (PDT), e o deputado Erick Musso (PP), vice-líder do governo na Assembleia. De acordo com a notícia, ambos teriam sido favorecidos por um empresário do município, dono de uma loja de materiais de construção, que teria “emprestado” o CNPJ da empresa dele para a compra de caminhonetes com descontos especiais, para favorecer os dois políticos.
Nossa intenção aqui não é entrar no mérito da denúncia, mesmo porque não tivemos acesso aos documentos da Promotoria de Aracruz, privilégio concedido, não se sabe por quais critérios, apenas ao jornal A Gazeta.
Esse é justamente o ponto. Não é razoável que o Ministério Público – por meio da Promotoria de Aracruz – se aproprie de documentos, imagens e outros elementos de investigação, e os entregue nas mãos de um único veículo de comunicação.
Sabendo que o conteúdo era só dele, o jornal A Gazeta estampou no chapéu da notícia o termo “exclusivo”. Deixando claro que somente o jornal estava veiculando o conteúdo, como de fato aconteceu. Lembrando aos leitores que nesse caso não se pode falar que o acesso exclusivo à informação tenha sido um mérito do jornal ou tampouco que eles tenham conseguido o “furo” por um trabalho investigativo. Os promotores simplesmente entregaram a informação de mão beijada ao jornal A Gazeta.
Os promotores são agentes públicos remunerados pelo povo. Eles não podem se apropriar de informações públicas e entregá-las com exclusividade a quem bem entendem. Se havia um material conclusivo sobre as investigações, que a Promotoria queria levar ao conhecimento da opinião pública — o que é razoável —, deveria fazê-lo de maneira isonômica.
O formato mais indicado nesses casos é a convocação de uma coletiva de imprensa. Na coletiva, a Promotoria anunciaria todos os detalhes da operação, entregaria aos jornalistas os documentos que julgasse pertinentes e responderia as perguntas dos repórteres sobre o caso.
Dessa maneira, todos os veículos teriam condições iguais de cobrir o episódio. A partir dessas informações gerais, caberia a cada um dos veículos correr atrás de outros fatos para oferecer ao leitor o conteúdo mais completo. Essa seria a concorrência sadia, limpa, leal na busca pela informação.
Fizemos questão de registrar nosso descontentamento com o Ministério Público porque está não é a primeira vez que isso acontece. É inaceitável que os membros do órgão ministerial continuem a tratar informações públicas com cunho privado.