segunda-feira, dezembro 2, 2024
24.4 C
Vitória
segunda-feira, dezembro 2, 2024
segunda-feira, dezembro 2, 2024

Leia Também:

Sem mérito

Não existe nada mais lamentável do que fazer promoção pessoal com feitos conquistados por terceiros. Mas é justamente o que o governador Paulo Hartung tem feito com o pequeno progresso alcançado de 27 mil hectares a mais de Mata Atlântica que passaram a cobrir o território capixaba desde 2007. Informação do Atlas da Mata Atlântica, lançado nessa quarta-feira (25) com todas as pompas palacianas.
 
Sem dúvidas, apesar de pequeno, o número é relevante, principalmente quando se leva em conta o fato de o Espírito Santo já ter tido mais de 90% de sua cobertura vegetal nativa desmatada. 
 
O mérito, no entanto, não é do projeto governamental Reflorestar, como Hartung tem feito questão de enfatizar em seus discursos e mídias compradas. É preciso, nesse caso, deixar claro e fazer justiça a quem se deve: aos camponeses que realizam o reflorestamento de suas propriedades por conta própria, com apoio do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que realiza um trabalho de conscientização permanente e silencioso, longe dos holofotes e das propagandas milionárias de publicidade e alvo constante de criminalização pelo mesmo governo do Estado. 

 

Falemos a verdade. O que o governo Paulo Hartung tem feito, de fato ao longo dos anos, é o contrário de lutar pelo reflorestamento das terras capixabas. É o principal incentivador da expansão do deserto verde pelo plantio indiscriminado de eucaliptais. Com amplo e irrestrito apoio estatal à máquina desertificadora das indústrias do papel Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano, as plantações de eucaliptos continuam avançando no norte e no noroeste do Estado, invadindo antigos canaviais, expropriação territórios quilombolas e indígenas e isolando camponeses e agricultores familiares.
 
Como se acostumou a maltratar os movimentos sociais (nem parece que iniciou sua trajetória política com apoio de pequenas lideranças), o governador e sua equipe ignoram o trabalho realizado pelos camponeses capixabas. Provas disso são, entre tantas, a completa falta de diálogo com os movimentos sociais do campo, que chegaram a acampar em frente à Secretaria Estadual de Agricultura à espera de uma audiência, sem sucesso; e a falta de apoio e investimento.
 
Se tivesse disposição em ao menos sentar-se com os camponeses, Hartung iria ouvir que, apesar de importante em sua concepção, o Reflorestar, de fato, não chega a quem precisa e quer reflorestar de verdade. Se isso ocorresse com os camponeses conscientes da importância da recuperação da Mata Atlântica, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), muito teria para avançar o reflorestamento, melhorando a produção de água, o clima e a qualidade do solo. 
 
Quando foi lançado, em 2011, a meta do Atlas era recuperar 80 mil hectares de Mata Atlântica até o ano de 2018. Até o momento, o que se conseguiu foram os 27 mil. Caso voltasse seus olhos para os pequenos agricultores, Hartung certamente estaria comemorando números expressivos.

Enquanto se negar a inverter a lógica, a área ambiental no Espírito Santo continuará como no atual e anteriores mandatos de Hartung: explorada como peça de marketing, na tentativa de esconder uma atuação pífia, centrada em garantir, a qualquer custo, favorecimentos aos grandes grupos empresariais capixabas.

Mais Lidas