Os discursos proferidos nessa quarta-feira (10), no Palácio Anchieta, pelas autoridades federais lideradas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seguem o tom da “nova” política em curso no Brasil, depois da deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Na coroação de Paulo Hartung como estrela do movimento que visa manter a velha política como se fosse novidade, ecoou uma frase dita pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que é digna de registro: “As pessoas de bem vão se unir e teremos sucesso”.
O tom da frase, extremamente preconceituosa, demonstra claramente o pensamento elitizado do grupo, quando se refere às pessoas. Não se pode deixar de lembrar o avô do autor da preciosidade, o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães, o “Toninho Malvadeza”.
Ministro de Estado e um dos artífices do movimento que resultou na ditadura, que durou 25 anos, a partir de 1964, ACM era mesmo uma pessoa de bem, dentro do mesmo conceito que perdura até hoje, não há como negar.
Basta ver os outros discursos: Rodrigo Maia, o presidenciável do novo “centrão”, condenou os extremismos, certamente uma referência a qualquer movimento contestatório ao modelo imposto pelo mercado, que invade os espaços da política de uma forma avassaladora, nos últimos dois anos.
Para as “pessoas de bem” não há processos, leis, julgamentos. Elas agem livremente, com pequenas restrições, que passam com o tempo.
Hartung pontuou mais amplamente, como estrela maior nesse cenário recheados de figurantes aptos a emitir aplausos, sem, no entanto, saber como justificá-los.
Ele citou a Venezuela,caótica, exemplo a não ser seguido.Elogiou a França, do banqueiro Macron, e a Argentina, do empresário Macri. Por lá, há dois anos eles governam perfeitamente afinados aos conceitos da “nova” política.
Nos dois países, direitos de trabalhadores e avanços sociais foram cortados e a economia de arrocho prossegue fazendo vítimas milhares de pessoas. Que não estão bem, evidentemente, porque perderam empregos, planos de saúde e tiveram aposentadorias cortadas.
Hartung é um dos líderes desse movimento, que ameaça milhões de pessoas que não são de bem, segundo o conceito de ACM Neto. Uma frase que tem mais de 500 anos, desde que aqui os portugueses aportaram para saquear essa terra.